Folha de S. Paulo


Faculdades adotam entrevistas como parte da seleção para avaliar perfil

Quando a estudante Gabriela Fernandes, 18, se inscreveu para o vestibular deste ano do curso de administração pública da FGV (Fundação Getulio Vargas), ela teve uma surpresa. Pela primeira vez, o processo seletivo da faculdade inclui, além do vestibular, entrevista presencial.

Esta é uma tendência que começa a chegar ao Brasil: as universidades querem analisar capacidades comportamentais dos alunos, além dos conhecimentos teóricos.
"Algumas características são fundamentais em um profissional, como saber trabalhar em equipe. Isso se analisa melhor na entrevista", diz Renato Guimarães Ferreira, coordenador de administração de empresas da FGV.

As entrevistas duram de 15 a 30 minutos e são realizadas por professores da instituição. "Criamos cenários em que eles devem se imaginar tomando decisões como alocamento de recursos", exemplifica Marco Antonio Teixeira, vice-coordenador do curso de administração pública.

"Eles fizeram perguntas sobre a minha carta de motivação, a redação que fiz na prova, experiências pessoais e capacidade de liderança", conta Gabriela Fernandes. Segundo Teixeira, o candidato deve estudar sobre o curso escolhido e também sobre a instituição.

Essa etapa equivale a 30% da nota. Os outros 70% vêm da prova da FGV ou do Enem. Teixeira atribui ao novo método o fato de não ter havido nenhuma desistência no último processo seletivo, além de um número maior de matrículas na primeira chamada. Para ele, a entrevista ajuda identificar se o candidato tem o perfil necessário para seguir o curso.

A faculdade do hospital Albert Einstein também adota entrevistas na seleção dos estudantes de seu curso de medicina, criado em 2015. Cerca de 250 alunos são selecionados após as provas para passar por oito entrevistas. Em cada uma delas, com duração de apenas oito minutos, um cenário é apresentado para testar capacidades como comunicação, empatia e pensamento crítico.

O calouro de medicina Brenno Maciel, 21, conta que passou por uma entrevista em que havia um desenho no chão que de um ângulo parecia o número nove e, de outro, o número seis.

A questão era dizer se havia apenas uma leitura correta do desenho e descrever situações nas quais havia passado por debates parecidos. "Por ser um método novo, o estranhamento é comum. Mas é melhor que outra prova dissertativa. Pude expor minha visão de mundo", diz.

Para o coordenador acadêmico do instituto de ensino do Einstein, Durval Daniel Filho, a conversa ajuda a selecionar quem tem notas muito parecidas nas provas. "Nosso desafio é tentar driblar o discurso pronto", diz Filho, que recomenda treinar a argumentação. "O melhor conselho é agir naturalmente."

O coach Alexandre Prado diz que a entrevista das faculdades devem ser encaradas de forma similar àquelas de emprego -é preciso ter cuidado com a aparência, não chegar atrasado e evitar linguagem informal. "Também deve estar preparado para questões específicas da sua área de estudo", afirma.

Keiny Andrade/Folhapress
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