Folha de S. Paulo


Mulheres marcham em SP contra o machismo e a reforma da Previdência

Paulo Saldaña/ Folhapress
Protesto de professores municipal na av. Paulista, altura da praça Oswaldo Cruz, neste Dia da Mulhere
Protesto de professores municipal na av. Paulista, altura da praça Oswaldo Cruz, neste Dia da Mulher

A Marcha das Mulheres faz uma passeata pelas ruas da região central de São Paulo, nesta quarta-feira (8), Dia da Mulher, com bandeiras pela legalização do aborto e pela oposição à reforma da Previdência, ao machismo e à violência contra mulher. O ato ganhou ainda mais volume com os protestos de professores municipais e estaduais.

A psicóloga Juliana Sanches, 27, veio de Mongaguá, litoral, para o ato em São Paulo. "A gente vive num sistema patriarcal violento, de opressão todos os dias, e enfrentamos agora uma onda opressora em nível nacional e mundial", diz ela. "Nunca foi tão importante marchar".

Na mão dela, um cartaz dizia "sexo quando desejo, gravidez quando decido". E "Fora, Temer", lema repetido em gritos e cartazes ao longo do ato. Varias baterias e apitos compunham o cenário.

Ao lado de Juliana, o amigo Denner Siller, 37, empunhava a placa com a frase "o feminismo liberta porque o machismo mata".

O ato começou por volta das 15h, na praça da Sé. A maioria dos manifestantes era de mulher, algumas com bebês, mas muitos homens marchavam também. "É bem difícil encontrar amigos que compartilham com a mensagem do cartaz, mas de cabeça em cabeça a gente vai convencendo", diz Denner.

A baiana Bianca Silva, 23, aproveitou as férias em São Paulo para participar do ato. Com mega fone na mão, puxava "pela vidas mulheres". "A gente vive assédio no trabalho, assédio na sala de aula, é uma violência cotidiana também na mídia, nas músicas, na cultura", diz ela. "Hoje é um dia histórico".

Na multidão, a vereadora Samia Bomfim (PSOL) que o momento é de "ofensiva", citando dados sobre a quantidade de mulheres que sofrem violência diariamente. "E temos que avançar com a legalização do aborto, que é um tabu".

O movimento não informou estimativa de manifestantes. Por volta das 20h, o grupo, que estava no viaduto do Chá e na Xavier de Toledo, em frente do Theatro Municipal, começou a dispersar. O plano inicial era ir até a praça da República, mas algumas mulheres começavam a ir embora antes.

Caminhões dos sindicatos dos professores e do sindicato dos Metalúrgicos acompanharam a passeata. "É momento de nos unirmos", disse a professora Eliana Penha, 49, há 15 na rede estadual.

PROFESSORES

Os professores municipais e estaduais de São Paulo também protestaram nesse Dia da Mulher. Os dois atos começaram na avenida Paulista e caminharam juntos até a Marcha das Mulheres, juntando os movimentos no início da tarde, no viaduto Maria Paula.

Os professores municipais fecharam a pista da Paulista no sentido Consolação às 15h, na altura da praça Oswaldo Cruz. Segundo o Sinpeem e a Aprofem (sindicatos da rede municipal), 4.000 profissionais participaram da concentração do ato, antes de seguir em passeata.

"Quase 90% da categoria são mulheres, e elas serão a principal vítima da reforma da Previdência", diz Claudio Fonseca, presidente do Sinpeem. De acordo com ele, a maior preocupação com a reforma é o possível fim da aposentadoria especial do magistério, além do aumento na idade.

Fonseca lembra que o ato reforça também pautas da categoria no município. Entre as reivindicações, estão a confirmação por parte da gestão João Doria (PSDB) de reajustes garantidos pela gestão passada e melhorias na condições de trabalho –como a diminuição no número de alunos por série.

O grupo se encontrou por volta das 16h30 com o ato dos professores ligados à Apeoesp (sindicato da rede estadual), que já se reuniam no vão livre do Masp, bloqueando os dois sentidos da Paulista. Segundo a Apeoesp, o número de manifestantes com os dois atos chegava a 20 mil.

"Não queremos só rosas, mas queremos também melhores condições de trabalho", disse a presidente da Apeoesp, Maria Izabel Noronha, se referindo a reivindicação de reajuste salarial. Em vários momentos, a os manifestantes gritaram "Fora, Alckmin". O governo Geraldo Alckmin (PSDB) não concede reajuste para professores desde 2014.

Os professores municipais e estaduais seguiram em passeata pela av. Brigadeiro Luís Antônio, em direção à praça da Sé, onde se encontraram com a Marcha das Mulheres, que já estava no local. Juntos, os grupos devem seguir agora até a praça da República, também no centro.

PARALISAÇÃO

Os professores da rede municipal já decidiram entrar em greve a partir do do 15 de março, acompanhando a convocação da greve nacional da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação). A greve é por tempo indeterminado, mas os rumos do movimento serão definidos em assembleia no dia 21.

A Apeoesp também aprovou greve para o dia 15. Neste dia vão discutir se haverá uma paralisação mais longa.

Sem reajuste, o sindicato tentou puxar uma greve no passado mas não houve adesão. "A manifestação desta quarta é o sinal de que teremos força para pressionar o governo pelos nossos direitos", diz a presidente da entidade, Maria Izabel Noronha.


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