Folha de S. Paulo


Ocupações de escolas opõem pais e alunos em SP, diz pesquisa Datafolha

Marcus Leoni/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 13.12.16 15H Pesquisa Datafolha aborda apoio dos estudantes a ocupações como forma de protestos, mas não entre pais. Adriana (azul) apoia a filha, Beatriz (listrada), nas manifestacoes, mas tem medo. (Foto: Marcus Leoni / Folhapress, EDITORIA)
A técnica em enfermagem Adriana Gonçalves, 41, com a filha, Beatriz, 16, detida em ocupação em SP

A ocupação de escolas como forma de protesto divide as famílias. Enquanto a maioria dos estudantes é a favor, os pais pensam diferente.

Pesquisa Datafolha mostra que 6 em cada 10 estudantes paulistanos aprovam a tática que virou uma marca do movimento estudantil desde o ano passado, sobretudo entre os secundaristas. Entre os pais, 62% são contrários.

A pesquisa, que ouviu 805 estudantes e 408 pais de 25 a 30 de novembro, reflete a opinião de estudantes do 8º e 9º anos do ensino fundamental e do ensino médio, além de pais com filhos nessas séries na capital paulista.

Datafolha - Ocupação de escolas

Entre os consultados, 80% são da rede pública e o restante, de escolas particulares (proporção que reflete a realidade das matrículas em SP).

Os estudantes, em sua maioria, acreditam no formato, mas se dividem sobre os impactos: 51% acreditam que as ocupações trazem mais prejuízos que benefícios para as escolas. Por outro lado, metade declara que há mais benefícios para a educação brasileira de maneira geral.

Apenas um terço dos pais vê benefícios para a escola e para a educação.

O apoio aos atos reflete a opinião de uma maioria de alunos que nem sequer participou efetivamente do movimento. Apenas 6% fizeram parte de ocupações em 2015, quando quase 200 escolas foram tomadas por estudantes contrários ao projeto de reorganização da rede estadual.

Anunciada pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB), a proposta previa fechar 94 escolas e deixar unidades com atendimento de apenas um ciclo de ensino. A reorganização, abortada pelo governo no fim de 2015, provocaria a transferência de 311 mil alunos.

A falta de diálogo foi um dos estopins. "Apesar de poucos ocuparem, as ocupações ganharam a opinião pública", diz Marco Antonio Carvalho Teixeira, professor da FGV.

A técnica de enfermagem Adriana Gonçalves, 41, soube pelas redes sociais que a filha, Beatriz, 16, tinha sido detida numa das tentativas de desocupação pela PM na Escola Estadual de Diadema, a primeira a ser ocupada.

"Você quer que seu filho lute pelo o que acredita, mas naquele dia fiquei com muito medo", diz a mãe. Beatriz afirma acreditar no impacto dos atos. "Eu me mudei para a escola porque me preocupo com meu futuro."

As ocupações ainda trazem uma mudança "qualitativa da maneira em que os estudantes se relacionam com a escola", afirma o professor Pablo Ortellado, da USP.

A Secretaria de Educação de SP informa que, neste ano, 450 mil alunos e servidores já foram ouvidos em consulta sobre gestão democrática. Haverá encontros para debater o tema em 2017, diz Wilson Levy, responsável pelo projeto.

ONDA

Em 2016, a falta de merenda em escolas técnicas estaduais paulistas provocou nova fase de ocupações. A tática se repetiu em outros cinco Estados por motivos diversos.

No segundo semestre, a ação dos estudantes se voltou contra o governo Michel Temer (PMDB). A medida provisória do ensino médio e a proposta de emenda constitucional do teto de gastos desencadearam outra onda de ocupações pelo Brasil. Mil escolas e prédios de universidades foram tomados, e também houve protestos.

Cerca de 13% dos estudantes participaram de manifestações neste ano. Além das pautas educacionais, eles foram às ruas contra o impeachment e contra Temer. Entre os pais, o índice foi de 11%, mas a pauta se inverte. A maioria marchou contra o governo Dilma –reivindicações estudantis não motivaram os pais.

"Quando 10% estão mobilizados, o país inteiro está mobilizado. O que era diferente antes de junho de 2013", diz Ortellado.

A margem de erro é de 4 pontos percentuais entre alunos e de 5 entre pais.


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