Folha de S. Paulo


Mulheres são menos de 20% nos cursos de ciências exatas da USP

Quase metade dos aprovados no último processo seletivo da Fuvest são mulheres. Nas exatas, no entanto, a participação delas mal chega a uma em cada cinco alunos. Dos calouros da Poli, 18% são mulheres. O número sobe pouco, para 23%, na Física.

Nas demais unidades, as mulheres só perdem feio em participação na Faculdade de Economia e Administração (29%) e na Santa Casa (39%).

"São poucas as que entram nos cursos de exatas, e o número das que se formam é ainda menor", diz Márcia Barbosa, professora titular de física da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Em física, a estimativa é que menos de 5% de mulheres cheguem ao topo da carreira, como Márcia. "É como se houvesse um vazamento de mulheres pelo caminho."

Quem teve a experiência de fazer graduação em um ambiente masculino viu esse vazamento de perto. A turma de física da USP na qual estudou Djana Contier, 37, por exemplo, tinha cinco mulheres no início –10% dos alunos.

SEXO NA UNIVERSIDADE - Divisão por gênero

Só duas delas chegaram até o final do curso, incluindo Contier. Ela fez mestrado em educação e hoje comanda uma consultoria que atua com educação não formal, por meio, por exemplo, de museus de ciência.

"O ambiente era opressor, como seria para um homem se mulheres fossem a maioria da turma", conta. "Tentei passar despercebida."

De acordo com Márcia Barbosa, da UFRGS, as meninas vão sendo "expulsas" dos cursos de exatas ao longo dos anos. Poucas são escolhidas para ganhar bolsa de pesquisa. Os professores partem do princípio de que elas vão deixar o curso. "As mulheres que entram são heroínas, as que saem são quase um milagre."

Larissa de Oliveira, 19, aluna de computação na USP, conta que, na sua turma inicial, de 50 estudantes, apenas quatro eram meninas.

"Na Poli, um professor disse no laboratório: 'Agora é a única parte a que as mulheres vão prestar atenção. Vamos falar sobre aquilo que dá cor ao batom'", conta Larissa Rodrigues Mendes Silva, 19, que faz engenharia civil.

Na Escola Politécnica, que tem o menor número de calouras entre as unidades pesquisadas pelo Datafolha, a expectativa é de crescimento. "A carreira de engenharia é tradicionalmente masculina, não só no Brasil, mas isso tem mudado", afirma a vice-diretora Liedi Bernucci, primeira mulher a ocupar um cargo de diretoria na escola.

O número de docentes mulheres na Poli ainda é baixo: 12%. Só a partir de 1990, elas chegaram ao cargo máximo da docência na escola (o chamado "professor titular"). Isso reflete a morosidade do processo, mas a tendência é que o número cresça", diz ela.

Há mais mulheres do que homens nos cursos da USP Leste. Lá, elas representam 63% de quem entra.


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