Folha de S. Paulo


Tema de redação do Enem vazou antes do início da prova, diz polícia

Dois candidatos ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) foram presos em flagrante neste domingo (6) portando registros do tema da redação. Os casos ocorreram em Macapá e em Fortaleza.

Na capital cearense, foi detido um homem com ponto eletrônico e o texto da redação, sobre o tema intolerância religiosa, pronto para ser transcrito. Segundo a delegada federal Fernanda Coutinho, coordenadora regional de segurança do exame, ele já tinha tido acesso ao gabarito e ao tema da redação antes do início das provas.

"Ele entrou no local de prova com o rascunho da redação feito no bolso da calça e ponto eletrônico. Por volta de 11h, 11h30, recebeu uma mensagem no celular com o gabarito da prova", afirmou.

Divulgação/Polícia Federal
Polícia Federal faz operações contra fraudes no Enem
Polícia Federal faz operações contra fraudes no Enem e apreende pontos eletrônicos

Segundo ela, o setor de inteligência da Polícia Federal soube da intenção do candidato de fraudar o exame e, por isso, agentes foram enviados ao local.

Com 34 anos, o candidato foi identificado como secretário de Saúde de um município vizinho. Deve responder por crimes contra a fé pública, o patrimônio e a paz pública, entre outros, informou a Polícia Federal.

No Amapá, um homem foi detido após sair da sala em que policiais federais estavam infiltrados para apurar fraudes no exame.

Os agentes revistaram o candidato e encontraram um papel no seu bolso com a inscrição "intolerância religiosa", tema da redação aplicada no exame. Segundo a polícia, ele admitiu conhecer o tema e relatou ter sido informado por uma amiga. Após pagar fiança de R$ 1.320, foi solto. Vai responder por fraude em certame de interesse público, cuja pena máxima é de quatro anos de prisão.

O Ministério da Educação não comentou o caso até as 20h30 desta segunda-feira.

No total, 11 pessoas foram detidas no domingo. Eram candidatos do Enem que estavam com ponto eletrônico, que permite fraudar a prova.

O tema da redação, "combate à intolerância religiosa no Brasil", gerou controvérsia e foi apontado como semelhante ao que apareceu em redes sociais no ano passado, em um suposto vazamento da prova, o que foi negado na ocasião pelo governo.

Um dos textos de apoio da prova deste ano coincide com a imagem que circulou.

Por causa da semelhança, o procurador da República Oscar Costa Filho, do Ceará, entrou com ação civil pública pedindo que a redação seja anulada.

Em nota divulgada nesta segunda-feira (7), o Inep, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais que organiza o Enem, condenou o que chamou de tentativa de "tumultuar" o exame e apontou diferenças entre a prova aplicada no domingo e a versão que circulou em 2015.

Segundo o Inep, todos os anos são veiculadas em redes sociais provas de redação falsas com os mais variados temas de relevância social, que muitas vezes mantêm uma relação com o que pode ser proposto em redações do Enem.

De acordo com a assessoria do Inep e a Polícia Federal, as operações deflagradas neste domingo são reflexo de ação conjunta entre as instituições, "que trabalham em parceria para garantir a segurança e a lisura do exame".

Ainda conforme o instituto, os casos identificados, que estão sob investigação, delimitarão a responsabilidade dos envolvidos. "O Inep e a PF reiteram o empenho para apurar os fatos, garantindo que não haja prejuízo aos participantes do Enem 2016", diz trecho da nota.

A ação e as prisões se somam a outras ocorrências. Uma semana antes, o exame foi adiado para 271 mil candidatos que seriam avaliados em escolas ocupadas por alunos contrários à proposta de reforma do ensino médio.

A prova também teve abstenção de 30%, a mais alta desde 2009, que foi de 37,7%.

Os problemas no Enem se repetem desde 2009, quando a prova ganhou o atual formato. Naquele ano, a avaliação foi roubada e cancelada. Em 2011, descobriu-se que um colégio de Fortaleza havia obtido acesso antecipado a alguns itens.


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