Folha de S. Paulo


Suspensão de local de prova na última hora surpreende candidatos do Enem

Candidatos do Enem que fariam a prova neste sábado (5) foram surpreendidos com a suspensão de última hora dos locais de prova pelo governo federal devido às ocupações de escolas por estudantes.

No Instituto de Artes e Comunicação Social da UFF (Universidade Federal Fluminense), em Niterói (RJ), encontraram o prédio fechado e tiveram que voltar para casa.

Desses locais com Enem adiado, 33, entre eles o instituto, entraram na lista do MEC às 22h de sexta-feira (4). Outros sete foram incluídos às 11h deste sábado (5). Com isso, subiu de 240 mil para 271 mil o número de inscritos que farão a prova somente em 3 e 4 de dezembro.

Dos 472 inscritos para fazer a prova nesse prédio em Niterói, cerca de 80 foram ao local neste sábado, segundo um funcionário de um prédio vizinho.

Daniel Restum, 30, recebeu um e-mail do MEC à meia-noite. Não o viu a tempo, foi até o local de prova e deu com a cara na porta.

"Foram R$ 50 de Uber até aqui. Eu desmarquei uma reunião para vir", reclamou, na porta do Instituto.

Enem 2016
Provas são aplicadas no sábado (5) e no domingo (6) para a maioria dos estudantes; parte teve exame adiado para dezembro
Fila para fazer a prova do Enem 2016 em São Paulo

Danielle Vargas, 32, diz que nem sequer recebeu e-mail.

"É muito frustrante, você fica na expectativa de fazer a prova, fica nervoso, aí descobre que vai ter que passar por tudo de novo."

Um grupo de alunos ocupantes passou a manhã na entrada informando os candidatos que chegavam de que, por decisão do MEC, não haveria prova.

Também havia dois funcionários do Enem no local.

Os alunos dizem que, na manhã de sexta, receberam a visita de uma funcionária da universidade e informaram a ela que desocupariam as salas para que a prova não tivesse que ser suspensa. Disseram a ela que ficariam na parte externa do prédio.

Uma nota do MEC colada à grade do portão dizia que, "em face da absoluta impossibilidade de efetuar a aplicação do exame com a indispensável segurança", a prova seria transferida para dezembro.

Ao lado do aviso, os estudantes colaram um cartaz que dizia: "A ocupação de estudantes do Iacs-UFF esclarece que, assim como o conjunto de ocupações da UFF, se posicionou a favor da realização das provas do Enem em integração com os espaços ocupados. O MEC não abriu diálogo com o movimento."

FLORIANÓPOLIS

Outros 1.061 estudantes que fariam o Enem neste sábado em dois centros de ensino da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), em Florianópolis, não conseguiram fazer o exame.

O CFH (Centro de Filosofia e Ciências Humanas) e o CED (Centro de Ciências da Educação) foram ocupados nos dias 31 de outubro e 3 de novembro, respectivamente, por alunos que protestam contra a reforma nacional do ensino médio e a PEC 241, que prevê controle dos gastos do governo federal.

Os estudantes que fariam o Enem no local souberam do cancelamento da prova no fim da manhã, via mensagem de texto, a menos de duas horas do início do teste, às 13h30.

Estudantes e pais se irritaram. Houve bate-boca com alunos que ocupam os prédios. "Vocês estão fazendo mal a muita gente que passou o ano todo estudando", gritou o pai de um aluno que faria o Enem.

Não houve violência física, nem necessidade de reforço da segurança do local com equipes da universidade ou da Polícia Militar.

A estudante Amanda Corrêa da Rosa, 17, que tenta vaga no curso de ciências biológicas, disse que soube do cancelamento às 11h16, via mensagem de texto. "Eu comecei a chorar", disse.

Ela foi ao campus na expectativa de ter havido algum equívoco, mas chegando ao local encontrou os prédios ocupados, com as entradas fechadas com fitas plásticas e barricadas de carteiras. "Todos têm o direito de se manifestar. Mas todo mundo que faria a prova aqui hoje se planejou muito para isso e foi prejudicado com o cancelamento", disse.

A estudante Amanda Benitez Vulcanis, 20, que busca vaga no curso de medicina, disse que concorda com a ocupação, mas declarou se sentir prejudicada pelo cancelamento. "Eu estava numa expectativa muito grande com a prova. A nova data [dias 3 e 4 de dezembro] coincide com alguns vestibulares", disse ela.

A mãe da estudante, a aposentada Cléia Benitez Vulcanis, 50, disse que os alunos que ocupam os prédios poderiam sair dos imóveis para a realização do Enem, sem prejuízos ao movimento. "Eles fariam o protesto deles, mas não prejudicariam ninguém", disse.

A microempresária Márcia Gentil, 50, mãe de aluna que pretende cursar medicina, também reclamou dos alunos que invadiram os prédios. "Eles estão prejudicando as pessoas. São uma minoria, não representam ninguém. Acho que eles estão sendo usados por grupos mais radicais", disse ela.

PRÉDIOS

Os coordenadores do Enem na UFSC declararam que não estavam autorizados a falar com a imprensa.

Um deles disse, sem se identificar, que até a última sexta-feira (4) havia a expectativa que as ocupações fossem encerradas ou suspensas durante o Enem, o que não ocorreu.

Os coordenadores não deram o número oficial de estudantes que deixaram de fazer o Enem no CFH e no CED. Estimaram o número em 950 (300 no CED e 650 no CFH).

Nem universidade, nem coordenadores do teste, estimaram quantos alunos foram ao local e tiveram de voltar para casa sem fazer a prova.

Os alunos que ocupam o CFH disseram que "em momento nenhum" avisaram que desocupariam os prédios. Segundo eles, o Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) foi informado da ocupação no local no dia 31 de outubro.

Os alunos que ocupam o CED declararam que pretendiam deixar o prédio durante o Enem, desde que uma comissão de cinco pessoas ficasse no local para cuidar dos pertences, o que não teria sido aceito pelos coordenadores.

Tanto os alunos do CFH quanto os do CED não quiseram se identificar.

Os dois grupos protestam pelos mesmos motivos, mas não estão unidos no movimento. Eles não revelaram quantas pessoas estão acampadas. Alunos da universidade ouvidos pela reportagem estimaram em cerca de 50 pessoas, entre alunos da UFSC e de fora da universidade.

Em nota, o Inep informou que, com as ocupações, havia "absoluta impossibilidade de efetuar a aplicação do exame", motivo pelo qual optou pelo cancelamento.

O texto diz ainda que não havia "segurança" no local para a realização da prova, e que a nova data para o teste será nos dias 3 e 4 de dezembro. "O Inep lamenta, sinceramente, pelos transtornos causados", diz a nota.

A reportagem não encontrou representantes da UFSC para comentarem o caso.

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