Folha de S. Paulo


Jovens com síndrome de Down se preparam para prova do Enem

Inês Corrêa Silva sempre soube que sua filha, Ana Rita, entraria na faculdade. Aos 19 anos, a jovem, que tem síndrome de Down, já está aprovada em uma universidade e neste final de semana vai fazer a prova do Enem.

O curso de teatro é o que Ana Rita realmente quer, mas ela também cogita outras possibilidades: educação física e sistemas de informação. Foi nesse último curso que ela foi aprovada, na Universidade Maurício de Nassau, na última terça-feira (1º). "Ela ficou muito feliz", conta a mãe.

Primeira aluna com Down em seu colégio, Ana Rita sempre estudou em escolas regulares. "Ela não teve muitos problemas, um pouco de dificuldades em cálculo, mas no terceiro bimestre já tinha fechado em várias disciplinas", orgulha-se a mãe.

No Enem, ela vai contar com uma pessoa para ajudá-la na leitura e na escrita, além de uma hora a mais para concluir o exame. "Foi uma sugestão dos professores dela. É uma prova muito longa, ela ia se cansar antes do fim", afirma Inês.

Nesta sexta-feira (4), ela decidiu relaxar antes da prova. Durante a manhã, participou de uma "aulão" -nada focado em fórmulas e conceitos- na escola em que estuda em Belém (PA) e descansou durante a tarde.

Enem 2016

Ana Rita é uma das cerca de 70 mil pessoas que pediram atendimento especializado nesta edição do exame. Esse tipo de atendimento é dado a pessoas com deficiência auditiva, física, intelectual, entre outros. Com a solicitação, o Inep faz provas em braile, ampliada, superampliada, além de atender alguns pedidos mais específicos.

Ana Claudia Brandão conta que o filho Pedro, 21, teve um ledor e tempo extra para fazer o Enem há alguns anos, mas não pôde fazer a redação em um computador. "É muita energia gasta pra escrever, pra fazer letra razoável e pra focar no assunto, sem contar a quantidade de linhas. A prova não é pensado pra uma pessoa com deficiência", afirma.

Olhando para trás, ela lembra que enfrentou problemas para conseguir mantê-lo na escola e chegou a ouvir que o rapaz nunca faria um vestibular, muito menos uma faculdade.

Não foi assim. A vida se incumbiu de levá-lo mais longe. Além do Enem, Pedro prestou outros quatro vestibulares. e passou em dois –Senac e Unip–, os únicos que permitiram que a redação fosse feita no computador. Ele se formou no meio do ano em gastronomia no Senac e agora se prepara para o primeiro emprego. Começa no próximo dia 10 no restaurante Pirajá, que abrirá no shopping Eldorado, na zona oeste de São Paulo.

Também com síndrome de Down, Samuel Adiron Ribeiro, 17, é mais um dos jovens que vão prestar o Enem neste final de semana, mas não vai usar ajuda ou tempo adicional no exame. "Ele prestou no ano passado pra conhecer e fez bem a prova. Achou puxado, muito longa, mas foi como para os demais jovens", conta o pai, Fabio Adiron Ribeiro.

Além do Enem, Samuel vai prestar PUC, Mackenzie e Rio Branco. Segundo o pai, só não vai prestar Fuvest porque acabou perdendo a data. Pretende fazer a faculdade de pedagogia.

Marina Gutierrez Viana, 17, que também tem síndrome de Down, estava inscrita para o Enem, mas após a aprovação em duas faculdade, pode nem fazer o exame. Os resultados saíram nessa última semana: aprovada em gestão de recursos humanos na Faci (Faculdade Ideal) e na Unama (Universidade da Amazônia), ambas em Belém (PA).

A garota, que é apaixonada por leitura e já pensou em prestar os cursos de moda e economia antes de decidir pela gestão de recursos humanos, contou com o auxílio de um ledor no vestibular e acabou tendo a letra elogiada por ele.

Segundo a ONG Movimento Down, ao menos, 34 jovens com síndrome de Down estão fazendo ou fizeram faculdade nos últimos anos no país.


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