Folha de S. Paulo


PM desocupa escola na zona norte de SP, e alunos são levados para delegacia

A Polícia Militar entrou na escola estadual Professor Silvio Xavier Antunes, no Piqueri, zona norte de São Paulo, por volta das 17h desta terça-feira (25) e encerrou a ocupação dos estudantes contra a PEC 241 e a reorganização do ensino médio, proposta pelo governo Temer (PMDB).

Segundo os alunos, os agentes da PM cercaram o colégio, isolaram a área e arrombaram o cadeado, forçando a saída dos manifestantes. A escola havia sido ocupada na madrugada, por volta da meia-noite.

"Eles entraram, separaram menores de idade para um lado e maiores para o outro e nos trouxeram aqui", disse um aluno de 13 anos que estava na ocupação, enquanto saía da delegacia, por volta das 21h. Ele estava acompanhado da mãe, que não sabia do protesto no colégio. Manifestantes se queixaram da ação da PM, mas a avaliação geral é que poderia ter ocorrido um conflito maior, o que foi evitado.

De acordo com o delegado Celso Lahoz Garcia, titular do 87ºDP, 22 pessoas foram levadas à delegacia –oito maiores de idade e 14 menores. Eles prestaram depoimento e começaram a ser liberados por volta das 19h. Cinco alunos menores de idade, cujos pais não foram localizados, foram levados ao Conselho Tutelar por volta das 22h.

Na noite da ocupação, um boletim de ocorrência não criminal foi registrado pela diretora do colégio em outro distrito policial –33º. Nesta terça, uma nova queixa foi registrada constando a acusação de dano ao patrimônio e furto, feita pela diretora do colégio, que não quis falar à reportagem. De acordo com o delegado, a diretora disse que merendas foram levadas e houve pequenas avarias.

Os estudantes negam, dizem ter registrado o momento em que entraram na escola para evitar a acusação de danos e dizem que, na verdade, levaram mais merenda ao colégio, uma vez que a reintegração ocorreu logo após chegar uma leva de doações.

O delegado afirmou que só a perícia poderá indicar se houve ou não danos.

Na delegacia, pais reclamam da falta de notícias e da indefinição do que pode ocorrer com os filhos. A bancária Maria Cristina Izaguirre, 44, não conseguia entrar na delegacia para falar com a filha, Amanda, 17, que foi levar comida para os alunos na ocupação. "A PM não deixa nem me comunicar com minha filha. Ela é menor de idade, pegaram o celular dela. Um absurdo", diz.

De acordo com o advogado que acompanhava os alunos, foi registrado um boletim de ocorrência não criminal e os manifestantes não devem responder a processo.

Antes da entrada da PM na escola, a estudante Débora Santana, 19, membro da UJS (União da Juventude Socialista), havia afirmado à reportagem que os alunos não tinham data para sair e estavam em diálogo com outras unidades.

"A PEC 241 congela os investimentos e prejudica a educação e a saúde. E também somos contra a reorganização do ensino médio. Por que tirar matérias, como sociologia, que já estão estabelecidas no currículo?", disse.

Funcionários que aguardavam na porta do colégio, porém, se diziam contra a atitude dos alunos. "Nós apoiamos a ocupação no ano passado porque iriam fechar essa escola, apesar de termos sido prejudicados. Esse ano não tem jeito", diz a servidora Fátima Evangelista, que esperava alguma solução do lado de fora.

A Professor Silvio Xavier Antunes também foi ocupada em 2015, contra a proposta de reorganização escolar do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

A diretoria do colégio não quis conversar com a reportagem no local. Os estudantes, no entanto, ressaltam que não estão contra a diretora da unidade, mas contra cortes na educação.

A advogada Yasmin Cascone acompanhava os alunos do lado de fora da escola. "Está intacta, nem mexeram na sala da direção, não entraram na cozinha. Estão documentando tudo para deixar registrado como receberam o colégio", diz.

OUTRAS OCUPAÇÕES

Estudantes também estão na reitoria do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), no centro da capital, desde a quinta-feira passada (20).

Segundo a instituição, após reunião na tarde de segunda-feira (24), alguns funcionários foram autorizados pelos manifestantes a entrar no prédio para retomar atividades essenciais ao IFSP. As aulas não foram paralisadas.

Em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, alunos ocupam a Câmara Municipal, também desde a tarde de quinta. De acordo com a assessoria de imprensa da Casa, cerca de 40 pessoas permanecem acampadas no local.

No último dia 8, os alunos também ocuparam a escola estadual Caetano de Campos, na Consolação, mas deixaram a instituição logo em seguida, quando a PM avisou que entraria no local.


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