Folha de S. Paulo


Estudantes ocupam cem escolas e professores aprovam greve no Paraná

"Nossa escola precisa de ajuda", lê-se em um cartaz fixado na porta de uma sala de aula na Escola Estadual Ana Divanir Boratto, em Ponta Grossa, cidade paranaense de pouco mais de 300 mil habitantes, a 117 km de Curitiba.

Essa é uma das mais de cem escolas ocupadas por estudantes no Paraná em ao menos 23 cidades, segundo levantamento do Movimento Ocupa Paraná. Eles protestam contra a medida provisória do governo Michel Temer (PMDB) que prevê a reforma do ensino médio.

A medida prevê a flexibilização do currículo, com disciplinas optativas, nas redes pública e particular. Também visa incentivar a expansão do ensino integral. Uma das principais polêmicas envolveu a retirada da exigência de artes, educação física, filosofia e sociologia nessa etapa do ensino.

O governo diz, porém, que elas estarão contempladas, já que a Base Nacional Comum Curricular, que ainda está em discussão, dará essas diretrizes.

A movimentação estudantil no Paraná se soma a uma greve dos professores do ensino básico e das universidades do Estado. Os docentes reagem ao pedido oficial do governador Beto Richa (PSDB) à Assembleia Legislativa do Paraná para que os deputados estaduais aprovem mudanças em uma lei condicionando o reajuste salarial anual à "comprovada disponibilidade orçamentária e financeira".

Na quinta-feira (6), em Cascavel, o governador Beto Richa afirmou que a movimentação dos professores é uma "brincadeira". Ele também disse, na sexta (7), na inauguração de uma fábrica em Guarapuava, que os estudantes não sabem porque protestam.

"Sindicatos ligados a CUT e ao PT, que querem a baderna, usam de forma criminosa as nossas crianças das escolas, que estão nas ruas protestando não sabem nem porque, em uma perfeita doutrinação ideológica", afirmou.

A situação atual é uma nova crise para o governo Richa na área de educação. Em 2015, motivados por reajustes no funcionamento do sistema de previdência do funcionalismo do Estado, professores do Paraná encabeçaram uma greve que durou 44 dias.

No momento mais sensível da mobilização, cerca de 3.000 policiais cercaram a Assembleia Legislativa do Estado para garantir a votação das mudanças no fundo previdenciário. Quando grevistas tentaram furar o bloqueio, iniciou-se um confronto que deixou mais de 200 feridos.

REIVINDICAÇÕES

Além da pauta em comum –a rejeição à reforma do ensino médio encaminhada pelo governo Michel Temer–, os alunos paranaenses têm reivindicações pontuais, que variam em cada escola. Na escola Ana Divanir, as demandas dos estudantes incluem melhorias no prédio, que enfrenta problemas estruturais.

Em Ponta Grossa, quarta maior cidade do Estado, outras cinco escolas foram ocupadas até a noite de segunda (10). O Colégio Regente Feijó, maior e mais antigo do município, com mais de 2.000 alunos, tem servido de casa para um grupo de estudantes desde sexta (7). Uma delas é Bruna Camargo, 18.

De acordo com a aluna, cerca de 50 colegas têm dormido no colégio. Um número maior, incluindo menores –que não ficam no local durante a noite–, participa de aulas públicas e oficinas que são ministradas durante o dia por professores e estudantes universitários simpáticos ao movimento.

Ocupação de escolas no Paraná

"O importante é que esse não é um movimento só de um escola, só do Regente", diz Camargo. "Todos os estudantes estão se ajudando, se apoiando."

As ocupações, porém, não são bem vistas por todos os membros da comunidade estudantil. A dois meses do vestibular e a um mês do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), alguns pais e alunos temem que a falta de aulas tenha impacto no resultado das provas.

"Muitos alunos querem ter aula, estão preocupados com isso. A gente tenta conscientizar os colegas de que não adianta ficar focado nisso por dois meses, porque depois a educação vai piorar muito", diz Camargo.

GREVE DOS PROFESSORES

O sindicato que representa os professores do ensino básico marcou uma assembleia nesta quarta (12) para referendar a greve, já indicada pelo conselho da entidade, que deve começar na próxima segunda (17).

Docentes de três instituições de ensino superior, a UEPG (Universidade Estadual de Ponta Grossa), a UEL (Universidade Estadual de Londrina) e a Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), já decidiram entrar em greve ainda nesta semana. A expectativa é que outras universidades estaduais decidam aderir à paralisação nos próximos dias.

"O não pagamento da reposição agrava o quadro de desmonte das universidades estaduais", diz Luiz Fernando Reis, professor da Unioeste que participa da coordenação dos sindicatos das universidades.

GOVERNO

Questionada, a Secretaria de Educação do Paraná afirmou que respeita o direito de manifestação dos estudantes, mas julga que a mobilização é desnecessária. "No Paraná o assunto [da reforma no ensino médio] está sendo amplamente debatido com a comunidade escolar, por meio de atividades nas escolas e seminários previstos para o dia 13 deste mês. Além disso, as ocupações atrapalham os estudos dos alunos que querem frequentar as aulas", afirmou a pasta.

A secretaria afirma que o governo deve entrar com pedidos de reintegração de posse nas escolas ocupadas e que mantém diálogo com os professores desde o início do ano. Segundo a pasta, uma reunião, com a participação do secretário da Fazenda, deve ser marcada para a próxima semana.


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