Folha de S. Paulo


Reuniões e um furto: conheça um dia de trabalho de uma diretora de escola

Segunda-feira, 6h45. Logo os alunos começam a surgir no portão da escola estadual Dom Miguel Kruse, localizada no Jardim Danfer, em Cangaíba, zona leste de São Paulo. Com cerca de 2.000 matriculados, está entre as maiores do Estado.

É quando começa o dia de Ângela Reis Lombardi, 47.

Diretora há 15 anos, formada em matemática e pedagogia e com 29 anos de magistério, ela circula pelo pátio e confere se está tudo bem com os agentes de organização escolar —novo nome para os antigos bedéis.

Mudaram os nomes, mas há anos que a rotina da gestora muda muito pouco. Todo dia, Ângela tem uma agenda apertada tomada por leituras e assinaturas de documentos, reuniões ordinárias com coordenadores, distribuição de circulares, controle de presença, preenchimento de relatórios.

A diretora, que em 2004 ganhou um prêmio do governo estadual por sua gestão —um mestrado na Espanha—, afirma que é sempre assim: "Está tudo planejado, mas, se houver alguma ocorrência, a agenda fica atrasada".

Ocorrências são, por exemplo, pais que vão conversar sobre um problema grave ocorrido com os filhos ou o surgimento, na diretoria, de algum aluno com dificuldades que não puderam ser resolvidas pelo mediador escolar.

Nesta manhã de segunda, nenhum acontecimento exige uma conversa com os pais ou com algum dos quase 700 alunos entre 15 e 18 anos que frequentam o ensino médio no período matutino.

Os cerca de 2.000 alunos da Miguel Kruse são divididos em três períodos. O da tarde é para estudantes do ensino fundamental 2 (6ª a 9ª séries), e o da noite, para o supletivo.

Ângela se dirige à sala dos professores e confere a lista de presença. É quase hora de o sinal tocar um trecho da música "Aquarela", para chamar alunos e professores para dentro das salas de aula.

A diretora tem o primeiro horário da agenda marcado com o vice-diretor do Escola da Família, programa de encontros aos fins de semana com pais, alunos, educadores e voluntários para atividades esportivas e culturais.

Sentada de costas para as duas telas com imagens das áreas da escola (há câmeras em todas as salas, nos pátios e nos portões), ela conversa sobre as atividades. Às 8h40, já está pronta para resolver com a secretária questões burocráticas envolvendo folha de pagamento, férias, faltas e abonos salariais.

Com todas as pendências lançadas no sistema da rede de ensino, Ângela Lombardi parte para o "trabalho de campo". Vai conferir a calha do telhado, trocada para evitar acúmulo de água e focos de dengue. "Se tiver água parada, a escola é multada", diz.

ELEIÇÕES
É a diretora quem inspeciona obras de manutenção predial. A próxima será a reforma do banheiro dos professores.

O compromisso seguinte, a reunião com a coordenação pedagógica, foi adiado para que a diretora possa ser entrevistada por representantes do grêmio sobre um projeto relacionado ao ambiente.

Só às 11h ela consegue encontrar as coordenadoras, que apresentam à diretora projetos como atividades didáticas sobre eleições municipais e calendário de provas.

Não há tempo para se alongar em discussões pedagógicas. A diretora tem uma reunião no começo da tarde no TRE —normalmente ela aproveita esse período para voltar para casa e só retorna à escola no início da noite.

Após a reunião sobre as eleições, volta à Dom Miguel Kruse às 18h30. Precisa passar uma circular administrativa aos professores, chamar um substituto para uma docente que adoeceu e conversar com a vice-diretora do fundamental para saber se tudo correu bem na parte da tarde.

Antes, tem que atender os pais de uma aluna furtada por um colega na sala da aula.

O furto do celular foi flagrado pelas câmeras. A diretora explica aos pais da garota que seu papel é passar o caso ao Conselho Tutelar e registrar o furto na ficha do aluno. A família da menina prefere não fazer boletim de ocorrência.

Terminada a conversa, a gestora vai até o pátio, onde ainda há alguns alunos do noturno. Depois do sinal, ela reorganiza a grade de aulas, para encaixar os horários do professor substituto, checa presenças e verifica pendências, num repeteco da manhã, até as 23h, fim das aulas e do expediente.


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