Folha de S. Paulo


É preciso considerar aspectos locais para avaliar escola, diz especialista

Pode ser que a educação no Brasil seja melhor do que na Finlândia, frequentemente citada como referência mundial em educação. O problema é que, no Brasil, as escolas têm menos infraestrutura e muitos alunos estão em situação vulnerável -o que não acontece na Finlândia.

Quem diz isso é Miguel Székely Pardo, economista com doutorado na Universidade de Oxford e diretor do CEES (Centro de Estudos Educativos e Sociais) do México. Leia trechos da entrevista.

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Folha - O que, em geral, pode melhorar a gestão na escola?
Miguel Székely Pardo - O elemento crítico no sistema educacional é o líder da escola. Se você tem um bom diretor, normalmente essa escola será boa. Numa escola ruim, mesmo que pais e alunos participem de sua gestão, isso pode não ter um resultado efetivo. Já nas escolas com bons líderes, os pais e alunos são convidados a participar da gestão de maneira efetiva.

Como você define um bom líder de uma escola?
Um bom líder é quem tem objetivos claros, que sabe o que pretende alcançar e envolve a escola toda para atingir esses objetivos, sejam eles acadêmicos ou de outra natureza. Não pode ser alguém que foi colocado nessa posição ou que foi imposto.

Escolas de regiões mais pobres ou violentas devem ter uma gestão diferenciada?
Uma das características de um bom líder é que ele tenha flexibilidade para se adaptar a realidade dos alunos, dos pais e do local em que a escola está inserida.
No caso de escolas de regiões vulneráveis, o líder não deve apenas perseguir bons resultados acadêmicos mas também pensar como conseguirá atender ao tipo de população que ele tem de servir.
É possível achar bons diretores em escolas que não têm bons resultados em exames talvez porque as crianças de lá tenham uma série de desvantagens econômicas e sociais que não ajuda o desenvolvimento escolar.

Que tipo de avaliação considera adequada para definir se uma escola está indo bem?
Um dos grandes problemas da avaliação é que as pessoas tendem a julgar as escolas com base em seus resultados e fazem comparações equivocadas. Se a gente olhar o Pisa [exame que avalia o desempenho em línguas, matemática e ciências em vários países], você verá que a Finlândia [12º lugar no Pisa de 2012] está bem à frente do Brasil [58º] e do México [53º]. Mas comparar a Finlândia com o Brasil é um erro, porque você não está considerando as características locais.

É possível, não sabemos, que a educação no Brasil e no México seja melhor do que na Finlândia. O problema é que, no Brasil, as escolas têm menos infraestrutura e muitos alunos estão em situação vulnerável. Você olha o resultado da Finlândia como evidência de um melhor sistema educacional, mas talvez seja só porque estão em uma melhor condição.

No México, que é uma realidade que conheço, escolas que têm bom desempenho são as que recebem os melhores alunos e têm as melhores condições. Ora, se você colocar os melhores em qualquer escola, provavelmente os resultados serão bons.

Um dos problemas no Brasil e no México é o ensino médio. Muitos alunos largam a escola dizendo que ela é chata e distante da sua realidade...
Eu acho que o gestor das escolas pode conseguir alguns avanços nesse sentido, mas esse problema é macro. Ou seja, os currículos escolares são muito distantes da realidade dos alunos e as escolas têm de seguir os currículos. Bons diretores que têm de lidar com material didático equivocado ficam de mãos atadas. Ou ainda, bons diretores que têm professores de baixa qualidade também não terão muito o que fazer.


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