Folha de S. Paulo


Para especialista, boa ideia baseada em ciência prevalecerá na educação

Seminário internacional Gestão Escolar

O Brasil está demonstrando que consegue estabelecer uma estrutura de políticas de educação baseadas em evidências. E isso é um ponto de virada para a ciência no país.

A opinião é de Herb Turner, professor de estatística da Universidade da Pensilvânia, proferida em debate na manhã desta sexta (16) no seminário internacional Gestão Escolar, realizado pelo Instituto Unibanco e pela Folha, com apoio do Insper.

A cultura do uso de meta-análise nos estudos sobre educação, para ele, está se fixando nos pesquisadores brasileiros. "Isso é importante porque essa estrutura de pesquisa vai continuar a mesma, apesar da certeza de que vão aparecer muito mais perguntas", continuou.

A meta-análise, conforme explicou seu colega de mesa, André Portela, professor de economia da FGV, é um método de revisão sistemática de estudos, com o objetivo de integrar resultados de diferentes pesquisas e aumentar seu poder estatístico.

Turner adicionou que a decolagem do método no Brasil acompanha uma tendência internacional, que começou na Europa, foi para os EUA no início do século e agora se expande para a América do Sul. "Nos Estados Unidos, começamos a ter alguma melhora nos últimos 15 anos, mas neste aspecto ainda estamos na infância."

Portela apontou que uma das primeiras experiências no uso de meta-análise na educação foi em um programa chamado Caminhos para Melhorar o Aprendizado, que ele coordenou.

O projeto congregou 165 estudos nacionais e internacionais sobre o aprendizado em português e matemática e padronizou os impactos apresentados na escala do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica).

Com essa homogeneização dos resultados, foi possível fazer comparações inéditas. Concluiu-se, por exemplo, que a redução da sala de aula tem um impacto mais benéfico ao aluno que sua alocação com um professor três anos mais experiente.

O programa apresentou ainda resultados sugestivos de melhora no aprendizado relacionada à gestão escolar, como a conclusão de que, se um aluno está alocado em uma classe com um professor que nunca faltou, seu aprendizado será 44% maior do que o de um aluno cujo professor faltou dez vezes no ano.

Para Turner, um problema característico da incipiência dos estudos com meta-análise é que muitas vezes não há evidências para comparar, porque ninguém as coletou até hoje. Mas ele reitera que a produção desse tipo de estudo sistemático veio para ficar.

"Se você quer implementar uma política que faça sentido, haverá muita confrontação ao seu redor, mas uma boa ideia baseada em ciência sempre prevalecerá", completou.

O debate foi mediado por Ana Estela de Sousa Pinto, repórter especial da Folha. O seminário internacional Caminhos para a Qualidade da Educação Pública: Impactos e Evidências, que tem apoio do Insper, acontece no Teatro Cetip, em São Paulo.


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