Folha de S. Paulo


Educação é o setor mais difícil de mudar, diz diretor de centro mexicano

Seminário internacional Gestão Escolar

O potencial e os desafios do uso de avaliações para nortear políticas educacionais foi o tema da terceira mesa do seminário internacional Gestão Escolar, correalização do Instituto Unibanco e da Folha, com apoio do Insper.

Participaram da mesa realizada na tarde desta quinta (15), Ilkka Turunen, conselheiro especial do Ministério da Educação e Cultura da Finlândia, e Miguel Székely, diretor do Centro de Educação e Estudos Sociais do México, com mediação de Cida Bento, do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade (Ceert).

Turunen apresentou um resumo de como a Finlândia se reestruturou, no final do século 20, para chegar ao topo das avaliações internacionais de desempenho, como o Pisa, e as medidas que o país está tomando neste momento, em que esse desempenho, embora ainda alto, vem caindo.

De todas as fontes de evidências, Turunen destaca as fornecidas pelos próprios professores. O maior conceito do sistema educacional finlandês, segundo ele, pode ser resumido na frase: "In teachers we trust" (acreditamos nos professores).

O sistema finlandês garante grande autonomia para professores e escolas e usa as avaliações como base de dados, nunca no sentido punitivo. Para a formulação de políticas educacionais, também são usadas evidências produzidas na academia e em trabalhos internacionais. "Mas não é só teoria, usamos a experiência prática. Uma política educacional baseada em evidências é mais uma aspiração do que um resultado", disse.

A necessidade de novos métodos de avaliação para atender os desafios da educação no século 21 foi abordada pelos palestrantes.

"Tínhamos um sistema quantitativo de avaliação, mas agora enfatizamos os aspectos qualitativos", contou Turunen.

Miguel Székely apontou as armadilhas das avaliações em países com populações mais heterogêneas e com maior desigualdade socioeconômica. E a dificuldade para avaliar o ensino em uma época em que a aquisição de competências é mais importante do que o acúmulo de conteúdo.

Em sua apresentação, ele disse que não falaria de experiências bem-sucedidas, como a da Finlândia, mas do que não deu certo –e o que podemos aprender com isso.

"Educação é o setor com mais poder de transformação. E o mais difícil de mudar", afirmou.

Além da resistência dos próprios agentes da educação (diretores, professores), Székely enfatizou que os resultados em educação dependem do encaixe complexo de um quebra cabeça, em que a gestão, o método de ensino, os recursos disponíveis interagem com as particularidades do aluno, sua família e sua situação social.

"Se colocarmos um aluno mexicano desnutrido em uma escola com o sistema de ensino da Finlândia, seu desempenho não será bom. E os sistemas de avaliação não foram feitos para avaliar todo o contexto envolvido na educação", afirmou Székely.


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