Folha de S. Paulo


Pesquisa em educação deve estar a serviço do gestor, diz especialista

Seminário internacional Gestão Escolar

A preocupação principal da segunda mesa do seminário internacional Gestão Escolar, correalizado pelo Instituto Unibanco e pela Folha, foi como transformar pesquisa em política pública de educação.

"É preciso sempre fazer escolhas no cardápio de políticas que se pode adotar para ver qual é mais efetiva por real gasto", afirmou Ricardo Madeira, professor de economia da USP. Segundo ele, mesmo que se gaste muito do Orçamento com política educacional, o governo não deve entender investimento de dinheiro como medida de sucesso.

Para que as políticas implementadas estejam lastreadas em evidências de que serão eficazes, é essencial que os tomadores de decisão estejam afinados com os pesquisadores da área.

Entre os desafios desse relacionamento, Madeira citou erros que podem ser cometidos pelos avaliadores de impacto, como a falha na identificação dos elementos relevantes do contexto de cada estudo. Do lado político, um problema recorrente é querer adaptar programas educacionais aos tempos dos mandatos eleitorais, o que barra qualquer projeto de longo prazo.

Para ele, isso só se resolve com "o fomento de um ecossistema de investigação científica que seja interdisciplinar e contínuo". Ou seja, gestores e comunidade acadêmica têm que trabalhar juntos em projetos que sejam duradouros e bem documentados.

Uma proposta de ecossistema assim vem sendo desenhada por Roberto Lent, professor da UFRJ, que encabeça a Rede Nacional de Ciência para Educação (CpE). A organização, segundo ele, visa aproximar especialistas em educação com interesses semelhantes para a formação de grupos de pesquisa que catalisem avanços em suas determinadas áreas.

Ele anunciou o lançamento de uma plataforma on-line para a rede em outubro e o projeto de criação de um prédio na UFRJ que funcionará como sede da instituição, congregando acadêmicos de diferentes origens.

Lent defendeu a necessidade de os cientistas estarem atentos para que suas pesquisas partam cada vez mais de necessidades práticas. "Na saúde, funciona muito bem. É a pesquisa que dizemos que vai da bancada à beira do leito. É possível pensar também da bancada à sala de aula".

O educador Greg Welch, da Universidade de Nebraska, apontou que toda avaliação de impacto de programas educacionais deve ser voltada aos interesses dos gestores que implementarão as políticas públicas. "As avaliações existem para ser fonte de informação para formuladores de políticas e gestores, para mostrar a eles aquilo que temos evidência de que funciona", afirmou.

O debate foi mediado por Mirela de Carvalho, do Instituto Unibanco. O seminário internacional Caminhos para a Qualidade da Educação Pública: Impactos e Evidências, que tem apoio do Insper, acontece nesta quinta (15) e sexta-feira (16) no teatro Cetip, em São Paulo.


Endereço da página:

Links no texto: