Folha de S. Paulo


'Terapia' ajuda pais confusos com a variedade de linhas pedagógicas

Construtivista, montessoriana, tradicional, waldorf... A dificuldade de escolher entre tantas linhas pedagógicas gerou um novo serviço nos consultórios de psicologia: o aconselhamento para a escolha da escola.

É como uma terapia breve. Na maioria dos casos, a questão é resolvida em quatro ou cinco sessões -ou até menos, se a dificuldade for apenas traduzir o "pedagoguês".

"Muitas escolas não explicam sua pedagogia de forma clara. As sessões ajudam os pais a organizar as ideias e a saber o que perguntar", afirma Irene Maluf, conselheira da Associação Paulista de Psicopedagogia.

As sessões custam entre R$ 150 e R$ 300. "O valor depende do número de encontros necessários e do tipo de atendimento", diz Maluf.

O número de encontros pode aumentar quando as dúvidas sobre a escola sinalizam outros problemas familiares.

"Muitos pais que procuram o aconselhamento estão preocupados com uma dificuldade específica do filho, não só com as teorias gerais da pedagogia", diz Nívea Fabrício, presidente da Andea (Associação Nacional da Dificuldade de Ensino e Aprendizagem).

"Parte do trabalho de escolher onde o filho vai estudar é entender melhor quem ele é", afirma a psicoterapeuta e psicopedagoga Claudia Arbex.

A ideia de colocar o filho em uma escola "forte" para prepará-lo melhor para o futuro ainda é muito influente, mas nem sempre isso é o melhor para a criança, segundo Edith Rubinstein, diretora do Centro de Estudos Seminários de Psicopedagogia.

Porém, fazer projetos para o filho é algo positivo, na visão do psicanalista Jorge Forbes. "A escolha da escola reflete a maneira com que os pais querem incluir o filho no mundo da cultura", diz ele.

O problema é quando os pais querem se defender do erro e ter a certeza absoluta de que estão fazendo a escolha certa. "Essa demanda gerou aparatos para 'garantir' uma certeza, como se a escola fosse um terno sob medida e sem nenhuma ruga no tecido", compara Forbes.

Isso não existe, mas a angústia de cometer erros faz com que alguns pais procurem a ajuda profissional para se desresponsabilizar da escolha, na análise de Forbes.

Raquel Cunha/Folhapress
Os advogados Carlos André e Ana Cavalcanti com a filha Mariana, em seu apartamento, em São Paulo
Os advogados Carlos André e Ana Cavalcanti com a filha Mariana, em seu apartamento, em São Paulo

CAMINHO DO MEIO

Há também casos em que as diferenças na história escolar de cada pai influenciam as escolhas. "Por isso, muitos ficam confusos", diz Arbex.

Esse foi um dos motivos que levaram os advogados Carlos André Cavalcanti, 56, e Ana Wanderley Cavalcanti, 45, ao consultório de uma psicoterapeuta quando procuravam a escola para a filha Mariana, 6.

"Eu e a Ana tivemos realidades escolares muito distintas. Procuramos orientação para encontrar o meio do caminho", conta o pai.

O emaranhado de opções pedagógicas foi outra motivação. "As escolas falam na 'língua' delas, e as explicações não estavam muito claras para mim", diz a mãe.

O casal não saiu do consultório com respostas prontas. "Quando falamos das escolas que já tínhamos visitado, ficamos com mais dúvidas. No final, não venceu a primeira escolha de cada um, mas uma terceira opinião [a da terapeuta], que atendia a todos", afirma André Cavalcanti.


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