Folha de S. Paulo


Colégios atuam para conscientizar alunos sobre perigos da vida on-line

À medida que o uso da tecnologia se torna natural na vida de todos, colégios paulistanos implementam iniciativas para conscientizar seus alunos sobre riscos e responsabilidades necessárias ao convívio no ambiente digital.

O Colégio Bandeirantes investe em ações desse tipo desde 2007, quando professores e funcionários passaram a ser capacitados no tema.

No ano seguinte, depois de traçar o perfil digital dos alunos, ou seja, avaliar a maneira como se comportavam on-line, o colégio iniciou intervenções pontuais em sala de aula. O formato manteve-se até 2014, quando a questão entrou na grade regular, com a matéria "Valores".

"Eles começaram a mudar devagarinho, a pensar antes de tirar uma foto, a evitar brigas on-line", diz Cristiana Mattos de Assumpção, 52, coordenadora de tecnologia educacional do colégio.

O foco das conversas varia de acordo com a idade do estudante, diz Assumpção. Com os mais novos, são trabalhados conteúdos de segurança digital, direitos autorais e bullying; no ensino médio, as discussões são mais sobre postagens difamatórias ou preconceituosas e suas possíveis consequências.

DESDE CEDO

O colégio Móbile, que implementa ações similares desde 2010, também a partir do sexto ano do fundamental, tem um projeto ambicioso para 2017: vai inaugurar uma unidade de ensino integral na qual os alunos terão, desde os quatro anos, "letramento digital" no currículo. O objetivo é criar uma consciência da utilização da tecnologia desde cedo.

Segundo Julio Ribeiro, 31, coordenador de tecnologia educacional do Móbile, a ideia é que os temas sejam trabalhados dentro das disciplinas tradicionais, não em aula específica. Para isso, a escola vem capacitando seu corpo docente. Além de ética, "letramento digital" também incluirá linguagem de programação.

"O objetivo é fazer com que os alunos consigam utilizar programação no fim do ciclo", afirma Ribeiro.

Wilton Ormundo, 42, diretor pedagógico do ensino médio do colégio Móbile, chama a atenção para a necessidade de um trabalho contínuo.

"O que era o espaço virtual em 2010 e o que é hoje? Estávamos falando de Orkut. Hoje falamos de WhatsApp e Snapchat. Surgiram novas formas que podem colocar o aluno em situação de risco", diz o diretor.

Segundo ele, independentemente dos meios que surjam, a escola deve atuar para que os alunos possam fazer as escolhas certas sozinhos.

Responsável por desenvolver trabalhos de conscientização em colégios de São Paulo como o Porto Seguro e o próprio Bandeirantes, a advogada e pedagoga especialista em direito digital Cristina Sleiman, 45, chama a atenção para a questão da responsabilidade on-line, que para ela é pouco discutida.

"A gente vê muitas ações relacionadas à segurança na internet. É difícil ver quem aborda responsabilidade. Vemos mais abordagem técnica, como 'não fale com estranhos', 'use antivírus'", diz.

Segundo Sleiman, muitos alunos não têm noção dos problemas que seu comportamento na rede pode causar.

Por isso, ela leva casos que saíram na mídia sobre internautas que, após uma postagem inadequada, perderam o emprego ou sofreram sanções criminais.

A especialista diz que o compartilhamento de fotos íntimas é uma das dúvidas mais presentes entre os alunos. "Sempre tem a garotada perguntando sobre essa questão. Há uma sensibilização necessária e muito forte nas escolas em relação à conduta de fotografar, compartilhar e armazenar essas imagens."


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