Folha de S. Paulo


Censo de pesquisas quer aproximar ciência das escolas

A Rede Nacional de Ciência para Educação, liderada desde 2014 pelo neurocientista Roberto Lent, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), produziu uma espécie de censo de pesquisadores que podem unir o conhecimento dos laboratórios à realidade da sala de aula. Pelo menos esse é o objetivo da iniciativa.

Para estimular a "ciência para educação", a rede cruzou currículos cadastrados na plataforma Lattes de pesquisadores em neurociência e educação, que mantenham conexões entre as duas áreas.
Após os cruzamentos iniciais, chegou-se a 200 cientistas líderes de grupos de pesquisa nessas áreas –75 deles já fazem parte da rede.

O censo vai ser divulgado até outubro. Será possível, por exemplo, visualizar as conexões entre os pesquisadores de áreas diferentes nos estudos já realizados. A rede ainda pretende realizar outros recortes de cruzamentos, que não envolvam necessariamente a neurociência.

A missão da Rede é produzir e fomentar a pesquisa "translacional" em educação, conceito que significa aproximar o que se faz nos laboratórios e centros de pesquisa da realidade da sala de aula. De acordo com Lent, isso já é aplicado com frequência na área de saúde, na produção de medicamentos e no desenvolvimento de novos tratamentos.

"Temos que cultivar um tipo de ciência inspirada pelo uso também na educação. Claro que não é receita de bolo, mas é o tipo de ciência mais rentável", diz Lent, ao defender que o Brasil estaria na vanguarda mundial ao investir nessa frente. Segundo Lent, há centros recentes com esse foco em poucos países, como Estados Unidos e Austrália.

A ideia do conceito translacional é fomentar uma cadeia de pesquisa que seja sempre inspirada pelo uso prático. Essa cadeia envolveria, por exemplo, não só os cientistas, mas também empresas, escolas, professores e governos.

A crítica é que hoje há um isolamento grande entre o que se faz na academia e o que se faz na escola, além de uma baixa cultura em usar evidências para a tomada de decisões na área educacional.

Para Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, falta ao Brasil uma estratégia científica para enfrentar os desafios na educação. Ele cita como exemplo a alfabetização, problema para o qual não há nem sequer clareza sobre a metodologia mais eficaz.

"Nosso problema na educação é grande, mas não temos a decomposição do problema para que se possa atribuir funções e mobilizar investimentos", diz.

Projetos em alfabetização e em habilidades socioemocionais fazem parte do primeiro bloco de prioridades de projetos da rede. O conceito "translacional" será um dos temas debatidos no 2º seminário internacional Gestão Escolar, realizado pelo Instituto Unibanco e pela Folha e nos próximos dias 15 e 16.


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