Folha de S. Paulo


Sem bolsa do Pronatec, alunos deixam rede particular de ensino técnico

O número de matrículas nas escolas particulares de ensino técnico caiu em 2015 depois de oito anos consecutivos de alta.

A queda teve impacto no total geral de alunos no segmento e deixou um clima de "ressaca" nas escolas, segundo representantes do setor. Eles apontam os cortes no Pronatec como principais responsáveis pelo problema.

O programa do governo federal, criado em 2011, tinha como objetivo ampliar a formação profissional no país e acumulou até este ano mais de 9 milhões de matrículas.

Uma de suas prioridades era distribuir bolsas para alunos da rede privada. Com o incentivo, escolas ampliaram as vagas. Agora, porém, o cenário mudou.

Isso afetou inclusive a demanda tradicional dos alunos que estudavam sem bolsa, segundo Claudio Filho, presidente da ANEET (Associação Nacional das Escolas de Ensino Técnico). "Os alunos não querem mais pagar o curso, querem aguardar o Pronatec. O setor virou refém do programa."

Bruno Eizerik, presidente do Sinepe-RS (Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul), concorda.

"A população se acostumou, pensou 'eu não vou pagar curso técnico, vou fazer o curso subsidiado pelo governo'", afirma.

Para ele, a iniciativa gerou uma "superdependência" no setor. "Diversas escolas fecharam as portas porque fizeram investimento, se prepararam para receber mais alunos e o programa foi abandonado", completa.

Pronatec - Matrículas 2011/ 2016 - Divisão por rede

'ARTIFICIAL'

Em 2014, a quantidade de bolsas do Pronatec (oficialmente sigla de Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) chegou a quase 2 milhões.

O número caiu para cerca de 295 mil vagas no ano passado. Em 2016, até abril foram 2.200 vagas.

"As escolas vivem um momento de ressaca. Houve um crescimento artificial, com um grande fluxo de alunos e de investimentos, e agora as coisas vão ter que voltar a seu lugar", diz Eizerik.

FUTURO

Segundo Claudio Filho, a expectativa do setor é que o programa acabe em 2016. O MEC (Ministério da Educação) nega a informação.

O ministro Mendonça Filho (DEM) promete uma nova versão do Pronatec, mas não dá detalhes e evita falar em metas e números para o programa. O argumento é que o MEC ainda trabalha para equacionar atrasos com escolas e com o sistema S.

"Vamos relançá-lo com bases sólidas, sustentáveis, para que funcione sem altos e baixos", diz o ministro, ao responsabilizar a gestão Dilma Rousseff pela crise.

Já Aloizio Mercadante (PT), que chefiou o ministério no governo Dilma, culpa o sucessor:"Michel Temer e Mendonça Filho tomaram a decisão de acabar com o Pronatec. Essa opção política representa um corte de 2 milhões de matrículas em 2016", afirma ele.

Orçamento do programa - Em R$ bilhões


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