Folha de S. Paulo


Eduardo Fernando da Silva, 40

EaD foi companhia durante luta contra o câncer, diz empresário

Alexandre Rezende/Folhapress
Eduardo Fernando da Silva, 40, em Belo Horizonte
Eduardo Fernando da Silva, 40, em Belo Horizonte

Em 2011, Eduardo Fernando da Silva, 40, foi diagnosticado com leucemia. Por um ano fez quimioterapia e, depois, passou por um transplante de medula óssea. Com a imunidade baixa, teve de ficar enclausurado para evitar doenças. Usou o período de recuperação para cursar sua primeira graduação: administração pública. Hoje, aos 40 e curado, ele está terminando a faculdade e pretende prestar concurso para a Polícia Federal.

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Foi num jogo de futebol que me senti mal pela primeira vez. Com fortes dores no corpo, precisei deixar a partida ainda no primeiro tempo. Depois de passar por uma bateria de exames, recebi o diagnóstico do médico. Estava com uma leucemia mieloide aguda, um tipo de câncer.

Naquele momento, a única coisa em que pensei foi na morte. Mas, depois, decidi que a doença não iria me paralisar. Fiz tratamento com quimioterapia durante um ano. Quando os exames mostraram que eu estava curado, resolvi planejar minha vida dali em diante.

Com a saúde debilitada, vi que precisaria deixar a minha empresa, prestadora de serviços de telefonia e eletrônica. Não tinha mais condições de instalar câmeras e realizar outros trabalhos braçais. Decidi, então, fazer minha primeira graduação e migrar para a área administrativa.

Achei mais seguro me inscrever em um curso a distância, já que ainda estava sob acompanhamento médico. Em 2013, comecei na faculdade de administração pública da UFLA (Universidade Federal de Lavras).

Em maio daquele ano, veio o baque. A doença havia voltado. Minha única possibilidade de cura era um transplante de medula óssea.

Graças a Deus, encontrei na minha família duas pessoas compatíveis. Meu irmão foi o doador, e, em agosto, fiz o transplante. Depois de dois meses no hospital, voltei para casa, em Santa Luzia (MG), onde moro com minha mãe e três irmãs.

Com a imunidade muito baixa, fiquei fechado no meu quarto por sete meses. Durante esse tempo, não tive contato com quase ninguém.

Quando ia me visitar, minha noiva tinha que tomar banho e colocar uma roupa limpa para evitar a transmissão de vírus e bactérias.

Nesse período de reclusão, minha grande companhia foi a educação a distância. Era tanta matéria para estudar que os dias passavam mais rápido. A faculdade funcionou como uma terapia, que me ocupou a cabeça e me fez ver além da doença.

De lá para cá, fui internado várias vezes por causa da rejeição ao transplante. O sistema imunológico passou a atacar meu próprio corpo e tive uma série de problemas respiratórios.

Juntando todas as internações, passei mais de um ano dentro do hospital. Mesmo assim, não parei de estudar. Levava meu notebook e um modem, para acessar a internet, e cumpria minhas obrigações acadêmicas.

Hoje, com a saúde estável, estou no último período do curso. Ainda tenho algumas matérias pendentes, mas, se tudo der certo, me formo no ano que vem.

O meu desejo é prestar um concurso para trabalhar na área administrativa da Polícia Federal. Sem o ensino a distância, isso seria impossível de ser feito.


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