Folha de S. Paulo


Aulas na internet ensinam a fazer móvel, desenho, penteado e massagem

Eduardo Knapp/Folhapress
O estudante Bruno Leite, 19, no Jardim Taboão, bairro de São Paulo
O estudante Bruno Leite, 19, no Jardim Taboão, bairro de São Paulo

"Então, alunos, esse bambu aqui é o Phyllostachys áurea, mais conhecido como cana-da-índia ou bambu-mirim", diz o professor Rafael Gonçalves no meio de um bambuzal, ao som de uma flauta indiana. É falando difícil que ele começa o curso "Movelaria em Bambu Básico", ensinado a distância.

A teoria fica só nas primeiras frases. Quase tudo o que se ensina nas 21 videoaulas é prático, desde técnicas de plantio, cultivo, colheita e tratamento do bambu até furações, montagens e acabamentos de móveis.

Apesar da trilha sonora de aula de ioga, o curso não é zen. Exige habilidades com maçarico, furadeira, broca, serra, paquímetro, esmeril, grosa, formão, facão e, claro, exige também um bambuzal. "Mas é um método que dá para ser feito em apartamento, comprando bambu no Ceagesp", afirma Nilson Dias, da ONG Pindorama, de Nova Friburgo (RJ), responsável pelo curso, que custa R$ 290.

Com o bambu em mãos, são necessárias quatro horas de aula para montar uma mesinha. Mede daqui, serra dali, bate, mede de novo, serra novamente, cola e amarra até chegar ao produto. As dúvidas que surgem são respondidas num fórum on-line. Quem consegue montar o próprio móvel envia uma foto à instituição e recebe um certificado.

O curso é só um exemplo do que pode ser feito via internet. Mergulho, desenho, penteado e até massagem são passíveis de serem virtualmente ensinados.

Para Vani Moreira Kenski, vice-presidente da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), a recessão potencializou a procura desse tipo de conteúdo.

Em 2014, Ailton Guimarães, 21, trabalhava como auxiliar de almoxarifado em Quixeré (CE) quando foi demitido. Na época, já assistia pela internet às aulas do curso "Aprenda a Desenhar do Zero". Decidiu se jogar nas lições e viver de desenho.

Composto por 30 vídeos, o curso custa R$ 397 e ensina quem não sabe desenhar "nem uma casinha" a produzir obras complexas, realistas, repletas de detalhes.

Quem não tem intimidade com o traçado sente, no início, uma sensação de incompetência. Depois de muito grafite e folha de papel, começa a flertar com a tridimensionalidade ao transformar um simples círculo em uma esfera usando técnicas de sombreamento. Ao final, é possível pedir um certificado.

Para o autor das aulas, o desenhista Ivan Querino, de Santo André, na Grande SP, não há diferença entre as modalidades de ensino. "Eu já tinha o método quando dava aulas presenciais. A diferença é que, antes de virar on-line, eram oito alunos. Agora, são 3.000, de todo o Brasil, de Angola e Portugal."

Danilo Verpa/Folhapress
O desenhista Ivan Querino, que dá aulas a distância, em Santo André (SP)
O desenhista Ivan Querino, que dá aulas a distância, em Santo André (SP)

Apesar da distância de quase 3.000 km entre Quixeré e Santo André, Guimarães não sentiu falta de um tutor. "Tirava minhas dúvidas por e-mail ou na comunidade no Facebook", diz.

Hoje, diz vender oito desenhos por mês, entre R$ 150 e R$ 200 cada um, o que rende um valor semelhante ao salário que ele recebia como auxiliar de almoxarifado.

Já o auxiliar de educação física Bruno Duarte Leite, 19, ainda não aplica na escola onde trabalha o que aprendeu no curso básico de massoterapia, da Prime Cursos, feito pela internet de forma gratuita no começo do ano.

As 22 aulas são compostas de textos teóricos, vez ou outra ilustrados com fotos do Pinterest e vídeos do YouTube. O site diz que são necessárias 30 horas para finalizar o programa, mas Leite demorou menos de um dia para ler todo o conteúdo, que vai desde a história da massagem até explicações sobre o que é do-in, shiatsu, shantala e massagem desportiva, foco principal de Leite. "É uma área indispensável na preparação do atleta", diz.

Na Prime Cursos, após a leitura das aulas é possível solicitar uma prova. Se o estudante acertar ao menos seis das dez questões pode solicitar um certificado a R$ 49,90. Leite acertou todas.

Antonio Braun, fundador da Prime Cursos, que ministra cerca de 230 cursos livres, explica aos mais distraídos que o objetivo da plataforma não é formar profissionais.


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