Folha de S. Paulo


Grupos educacionais se aproximam do mercado para conter resistência à EaD

Deixar de blindar carros para criar tecnologia mudou a vida do paulistano Washington Martins da Silva, 29. Sem tempo para estudar em sala de aula, optou pelo ensino a distância. Concluiu neste ano o curso de análise de sistemas no polo de Ferraz de Vasconcelos (Grande São Paulo) na Unip (Universidade Paulista).

Com o diploma sob o braço, ele diz ter passado por uma situação constrangedora numa entrevista de emprego. "A primeira pergunta que os recrutadores fizeram era se eu realmente tinha aprendido alguma coisa. Só acho que isso aconteceu porque eu era um ex-aluno EaD."

Esse tipo de preconceito é comum, afirma Ricardo Haag, diretor da consultoria de recrutamento Page Personnel. "Há empresas que ainda veem o ensino a distância apenas para formações complementares, não para a primeira graduação."

Marcus Leoni/Folhapress
O instrutor de mergulho Vicente Albanez, em São Paulo
O instrutor de mergulho Vicente Albanez, em São Paulo

Para tentar mudar essa imagem, grupos de educação têm criado projetos para aproximar a modalidade do mercado de trabalho.

Na Kroton, com 550 mil estudantes na área, um programa vai conectar formados a empresas em 2017. "Queremos saber quais são as necessidades das companhias, para adaptarmos os cursos", diz Roberto Valério, vice-presidente da EaD na instituição.

A Unip (Universidade Paulista), com 160 mil na graduação virtual, faz ajuste nos currículos dos cursos em busca de maior sintonia com o mercado, afirma a vice-reitora Marília Lopez. "A revisão é sempre contínua."

No grupo Estácio, com 164 mil alunos, a meta é intensificar a participação em feiras e eventos de RH.

Em crescimento - Educação a distância cresce mais que a presencial na última década

LONGE

O problema fica mais distante de quem quer empreender ou já está empregado.

O instrutor de mergulho Vicente Albanez, 56, encontrou no ensino a distância soluções para reabrir sua empresa. Em 2011, fincou parada em Caravelas, no litoral baiano, para trabalhar em alto mar e estudar logística.

Depois, Albanez concluiu um MBA em gestão de pessoas, na mesma modalidade, para ampliar o público de sua empresa de mergulho.

Cursar administração a distância também foi a saída para o pernambucano Luiz Carlos Rodrigues, 44. Com jornada de 12 horas como gerente de loja em Juazeiro (BA), não tinha tempo para a sala de aula. "Baixava as portas da loja e continuava lá estudando."

Ainda no primeiro ano da faculdade, foi promovido a gerente regional da rede e passou a comandar 14 lojas. "Para quem foi alfabetizado aos 15 anos, é muito", diz.


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