Folha de S. Paulo


Educadores discutem base curricular em SP e reclamam de limitações

Professores e gestores escolares de São Paulo iniciaram na quarta (27) mais uma etapa de discussão crítica para a revisão da Base Nacional Comum Curricular. O encontro faz parte de uma série de encontros, iniciada em 23 de junho, e que ocorre em todos os Estados até meados de agosto.

Apesar de a fase atual de discussões abrir a oportunidade para a participação de quem está nas escolas, alguns educadores criticaram a limitação do modelo. "Parece que estamos aqui para cumprir tabela, senti falta de uma participação massiva do professor, que vai colocar a base na prática", disse o professor de história Moacir Mendes, 39, durante seminário em São Paulo. Mendes atua em uma escola privada em Hortolândia, interior paulista.

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
SAO PAULO, SP, BRASIL, 27-07-2016 09h57: Seminario Estadual Sao Paulo - Debate estadual sobre Base Nacional Comum, mesa da esq. p/a direita: Valeria de Souza (Coordenadora da Escola de Formacao de professores do estado de SP), Jose Reneto Nalini (Sec. da Educacao SP), Ghileine Trigo Silveira (Coordenadora de Educacao Basica de SP), e Marialba Carneiro (pres. da Undime-SP. ( Foto: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress, COTIDIANO ) ***RESTRICAO*** Obs; foto do publico geral
Público presente no debate estadual sobre a Base Nacional Comum Curricular

Na quarta-feira, os profissionais realizaram uma crítica a todos os objetivos da base. Os itens nortearão os conteúdos que os estudantes deverão aprender na educação básica. A base será utilizada para que redes e escolas desenvolvam seus currículos.

Divididos em salas por disciplina, grupos de ao menos cinco professores trabalharam nos objetivos. Cada grupo deveria opinar se os textos descritores eram "claro" e "pertinente". Caso houvesse discordância, era possível escrever um pequeno comentário ou nova sugestão de redação.

Presente no grupo que discutia a parte de matemática dos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), o professor de matemática e autor de livros didáticos Antonio José Lopes, 61, criticou o formato da discussão. "Estamos servindo a essa estrutura já amarrada só para legitimar o que já decidiram", disse.

Dos 75 objetivos analisados, esse grupo reprovou cerca de 75 % dos itens. Ou por não terem clareza ou porque eram inapropriados para a série ou o segmento, segundo Lopes. "Esta consulta da versão dois é uma farsa, mas será utilizada com gráficos para propagandear que foi discutida em todos as unidades da federação".

SEMINÁRIOS

Os seminários têm discutido a segunda versão da base, divulgada em março deste ano após uma consulta pública feita pela internet. A primeira versão do texto, conhecida em setembro de 2015, recebeu 12 milhões de contribuições pela internet. Após os seminários nos Estados, as contribuições seguem para a consolidação da terceira e última versão.

Participam do seminário em São Paulo –que termina nesta quinta– 234 profissionais das redes públicas (estadual e municipais) e particular. O encontro ocorre na Escola de Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores do Estado de São Paulo, em Perdizes, zona oeste da capital paulista.

Nesta quinta, as discussões serão direcionadas à análise por área de conhecimento, com atenção à conexão entre os objetivos e os eixos de formação estipulados nos textos introdutórios do documento. "Nosso objetivo não é ter consenso, mas registrar todas as discordâncias", disse a coordenadora da Comissão estadual da Base, Renata Simões.

O modelo dos seminários foi criado em conjunto pelo Consed e pela Undime, entidades que representam, respectivamente, os secretários estaduais e municipais de educação. Depois de reunidas todas as colaborações estaduais, o MEC (Ministério da Educação) receberá um relatório com as críticas para mais uma etapa de revisão antes da terceira versão.

De acordo com o secretário de Educação Básica do MEC, Rossieli Soares da Silva, todas as considerações serão levadas em conta para a revisão. "Agora é hora de um debate de qualidade, e não de massa, como foi na consulta pela internet. As críticas são bem-vindas, mas têm de surgir agora, e não um mês depois dos seminários", diz.

O secretário de Educação do Estado de São Paulo, José Renato Nalini, falou aos educadores na abertura do encontro. Questionado sobre como o Estado se adaptaria a partir da base, Nalini disse que ainda não há um cronograma estipulado.

"São Paulo já tem um currículo", diz. "Nós é que vamos influenciar a Base Comum Curricular, e não sermos surpreendidos com imposições que resultem das discussões em outros estados. Mas se houver alguma coisa que seja necessário o aprimoramento, vamos cuidar disso em várias frentes."

Para a professora de educação infantil Ana Paula Epifanio, 387, da rede municipal Itapevi (grande São Paulo), a base significa um grande avanço para a etapa. "A educação infantil sempre foi deixada de lado e a base traz um avanço enorme para chegarmos ao conceito de educar os mais novos, e não só cuidar", disse ela, também durante o encontro.

Entre quarta e quinta, tem ocorrido encontros simultâneos nos Estados da Bahia, Paraíba, Distrito Federal, Pernambuco, Sergipe e Rio. Além de São Paulo.

O MEC prefere não trabalhar com uma data para fechar a versão final do documento. Entretanto, há o objetivo de tentar finalizar no mês de novembro.


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