Folha de S. Paulo


86% dos diretores dizem que falta material em escolas municipais de SP

Uma pesquisa realizada com gestores das escolas municipais de São Paulo revela descontentamento com as condições de trabalho na rede. No levantamento, 66% dos profissionais dizem que o material didático oferecido pela gestão Fernando Haddad (PT) é inadequado e, para 86%, é insuficiente.

A pesquisa Retrato da Rede é realizada pelo Sinesp (Sindicato de gestores da rede municipal). Foram ouvidos 575 gestores -11% dos diretores, supervisores e coordenadores da rede.

ESTRUTURA - O que diretores de escolas municipais de São Paulo dizem

A coordenadora pedagógica Katia Morais, 41, critica o modo centralizado, sem a participação de quem está na escola, das decisões de compra de materiais. "Talvez o que o professor quer aqui é diferente em outras escolas".

Morais atua em uma escola de educação infantil na Brasilândia, zona norte. Segundo ela, a baixa qualidade dos materiais faz com que tudo acabe antes do fim do ano.

"Chega pouca tinta, pouca variedade de papeis para as crianças pequenas", diz. "Aponta o lápis e já quebra, a massinha endurece em alguns dias. Assim, temos que repor com o dinheiro da escola, ao invés de comprar outras opções".

Joel Silva/Folhapress
SAO PAULO,SP BRASIL-11-07- 2016 : A professora Katia Regina Vinhas de Morais, em sua casa na zona norte de Sao Paulo. pesquisa que traça um retrato da rede municipal de ensino de SP. Os próprios gestores apontaram falhas em materiais, condições de trabalho e impactos na saúde. ( Foto: Joel Silva/ Folhapress ) *** COTIDIANO*** ( ***EXCLUSIVO FOLHA***)
A coordenadora pedagógica Katia Morais critica a centralização nas decisões sobre materiais

Neste ano, a gestão Fernando Haddad (PT) atrasou o envio de materiais pedagógicos para os alunos. Boa parte das escolas recebeu os kits só em abril (aulas começaram em fevereiro).

A coordenadora ainda reclama da lotação de salas. Na escola dela, as nove salas de pré-escola têm 35 crianças (de 4 a 5 anos). A norma da própria prefeitura prevê o máximo de 29 alunos por sala.

Como a Folha revelou em março, a gestão tem "[lotado classes":http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2016/03/1749930-gestao-haddad-lota-classes-para-ampliar-matriculas-na-pre-escola.shtml. Nas turmas que atendem crianças de 5 anos, a média está em 32 alunos por sala. Nas de 4 anos, 30.

Um terço dos gestores dizem que estão em escolas com salas lotadas. Cerca de 74% relatam falta de profissionais nas escolas.

CONTINUIDADE

O sociólogo Rudá Ricci, que coordena o levantamento, diz que os resultados ao longo dos anos mostram uma continuidade dos problemas nas condições de trabalho. Esta é a 12ª edição da pesquisa. Para ele, falta disposição de diálogo com quem está na escola por parte do governo.

"Muda o prefeito, o partido, mas existe um problema estrutural na rede de ausência de escuta", diz. "A gestão é autoritária na tomada das decisões, não ouve a rede".

VIOLÊNCIA - O que diretores de escolas municipais de São Paulo dizem

SAÚDE - O que diretores de escolas municipais de São Paulo dizem

O presidente do Sinesp, Luiz Carlos Ghilardi, chama a atenção para os resultados relacionados à insegurança. Nos dois últimos anos, 72% dos profissionais ouvidos afirmam que se sentem inseguros. "Temos várias reivindicações em termos de violência, espaço físico e saúde, mas falta vontade de politica e sobra burocracia".

De acordo com a pesquisa, 83% afirmam que a saúde é influenciada negativamente pelas condições de trabalho. Além disso, 93% dos profissionais trabalharam com dor ou febre no último ano.

OUTRO LADO

A secretaria de Educação não comentou a pesquisa. Argumentou que o diálogo com os educadores está entre as prioridades da gestão.

Em nota, a pasta afirma que investiu este ano R$ 105 milhões na aquisição de uniforme escolar e R$ 15 milhões em kits de material escolar. "Foram distribuídos cerca de 850 mil kits", diz a secretaria.

A prefeitura promete que, a partir de agosto, 800 guardas civis metropolitanos serão destacados para dar segurança diária a 300 escolas. A secretaria pontua que iniciou em 2016 o Programa Paz nas Escolas, que envolve comissões de mediação de Conflitos nas diretorias Regionais de ensino.

Segundo a gestão, há oscilação nas equipes por causa licenças por motivo de saúde, aposentadorias e exonerações. Em quatro anos, defende a prefeitura, foram nomeados 17 mil profissionais.


Endereço da página:

Links no texto: