Folha de S. Paulo


Sem vagas em escolas de dia, 40% dos alunos do noturno não trabalham

Avener Prado/Folhapress
Rafaela Boani de Queiroz Bonifácio, 16, aluna do terceiro ano do ensino médio da escola estadual Diadema
Rafaela Boani Bonifácio, 16, aluna do terceiro ano do ensino médio da escola estadual Diadema

Considerado um dos gargalos da educação básica no país, o ensino médio ainda tem um em cada três alunos em escolas noturnas. A oferta atende quem precisa trabalhar, mas o quadro revela desafios de garantir educação de qualidade para todos.

Cerca de 40% desses estudantes estão à noite, mas não trabalham, segundo dados do Censo Escolar de 2013 analisados pelo Instituto Unibanco. A falta de infraestrutura para aumentar o atendimento no diurno é uma das causas, conclui a instituição.

À noite, a carga de aulas é menor e, muitas vezes, o atendimento é precário. Estudos mostram alta rotatividade de docentes e falta de funcionamento de bibliotecas e laboratórios. Indicadores educacionais também são piores.

Comparados ao período diurno, alunos do noturno tiveram média 26 pontos menor em português e 22 em matemática no Saeb (Sistema de avaliação federal) de 2013, segundo pesquisa do Instituto Ayrton Senna de 2015.

A nota em português no 3º ano do ensino médio noturno, de 240 pontos, fica abaixo da média do 9º ano, o último do fundamental, de 246. A nota 300 é a adequada.

O superintendente do Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, diz que, além das piores condições de estudo, outro desafio é o perfil dos estudantes, mais pobres em geral. "São alunos mais vulneráveis, com maior chance de abandono, que precisam de atenção especial".

No noturno, as mães de 22% dos estudantes não concluíram o 5º ano. No diurno, a taxa é de 15,7%. Com 53% dos alunos com mais de dois anos de repetência, a taxa de abandono (de 14,5%) é três vezes maior do que pela manhã.

Na Escola Estadual Diadema, na Grande São Paulo, o ensino médio só é oferecido à noite. "O médio foi fechando de manhã. Logo quando eu ia para o 1º ano, só tinha no noturno", diz a estudante Rafaela Bonifácio, 16, hoje no 3º ano e sem trabalhar.

Ano passado, a reorganização da rede estadual fecharia a etapa na unidade. Com as ocupações das escolas, o governo desistiu.

Matricular-se em uma escola por ser a única do bairro é motivo de 32% dos estudantes do noturno, compartilhado somente por 1,1% dos alunos do diurnos, segundo o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária.

HISTÓRICO

As matrículas no ensino médio tiveram expansão nas décadas de 1980 e 1990, com a inclusão dos jovens mais pobres. Mesmo assim, ainda há 1,5 milhão de jovens entre 15 e 17 anos fora da escola.
Dos 8,3 milhões de matrículas no ensino médio atual, 2,3 milhões (33%) estão à noite.

Segundo Roberto Catelli Junior, da ONG Ação Educativa, não se pode "abrir mão de um noturno significativo, mas com qualidade, o que pede investimentos".

Secretário de Educação Básica do Ministério da Educação, Rossieli da Silva, concorda que nem sempre as redes têm vaga no diurno, mas diz ser impossível prescindir do noturno. "Temos de aproximar a etapa ao mundo do trabalho, com atenção maior nesse período".

ENSINO MÉDIO NOTURNO


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