Folha de S. Paulo


Por reajuste e contra 'desmonte' da USP, funcionários fazem ato em SP

Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
Funcionários e alunos da USP protestam em frente à entrada principal da instituição
Funcionários e alunos da USP protestam em frente à entrada principal da instituição

Trabalhadores e alunos da USP (Universidade de São Paulo) protestaram na manhã desta sexta-feira (3) em frente ao portão 1 da Cidade Universitária, na zona oeste de São Paulo, por reajuste salarial e contra o "desmonte" na universidade.

A Polícia Militar informou que o protesto começou por volta das 6h50, mas não soube dizer quantas pessoas participam da manifestação. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) informou que o ato interditou por completo a rua Alvarenga, na altura da avenida Afrânio Peixoto.

Os manifestantes também percorreram alguns vias do bairro até retornar para a entrada principal da USP e encerrar o ato, segundo a PM, por volta das 11h.

O ato desta sexta faz parte do Dia Nacional de Luta contra os ataques à educação, que envolve estudantes das universidades estaduais (Unicamp, USP e UNESP) e secundaristas de São Paulo "contra os ataques dos governos e a repressão". Em Campinas, a concentração acontece na Faculdade de Engenharia de Alimentos, portaria 1. Na Unesp, a organização fará manifestações nas avenidas nos arredores das unidades de Marília, Araraquara e Assis.

PARALISAÇÃO DA USP

Os servidores técnico-administrativos da USP, que estão em greve desde o dia 12 de maio, são contra a proposta de reajuste de 3% oferecida pelo Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas), que reúne também Unesp e Unicamp.

"A paralisação não é apenas por uma questão salarial, mas principalmente pelo desmonte que está acontecendo na USP. Ele [o reitor da USP, Marco Antonio Zago] está terceirizando os restaurantes, os serviços de manutenção, fechando vagas nas creches e desmontando a Prefeitura da USP", disse Magno de Carvalho, diretor Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores).

Os funcionários e professores pedem reajuste de 12,34%, sendo 9,34% (índice ICV-Dieese) de reajuste inflacionário e 3% de recuperação de perdas anteriores.

No dia 23 de maio, mais cinco unidades da USP entraram em greve : Administração Central, Hospital Universitário, Cepeusp (Centro de Práticas Esportivas da USP), HRAC (Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais) e a Biblioteca Brasiliana. Na Unicamp, eles também iniciaram paralisação.

Os docentes da USP entraram em greve no dia 30 de maio, após rejeitarem proposta de reajuste de 3%. A adesão dos professores foi aprovada por ampla maioria em assembleia da Adusp (Associação dos Docentes da USP), que reuniu cerca de 150 professores. Funcionários dos campi Ribeirão Preto, Bauru e São Carlos também estão em greve.

As negociações tendem a ficar ainda mais difíceis, já que um novo parecer da USP considerou "inviável" conceder até mesmo reajuste de 3%, devido à crise financeira na USP.

Alunos ligados ao Diretório Central dos Estudantes apoiam as demandas. Os estudantes reivindicam a contratação imediata de professores, implantação de cotas raciais, a volta da contratação automática em caso de aposentadoria de professor e protestam contra cortes na Educação.

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO

O sindicato afirma que as manifestações de quarta (1°) e quinta (2) foram em defesa dos hospitais universitários da USP, que estão sendo sucateados para implementar o projeto do reitor de desvinculação das USP, entregando o HU-USP ao HC (Hospital das Clínicas).

Com médicos em greve desde o início da semana, o HU (Hospital Universitário) da USP enfrenta um desmonte nos últimos anos, com demissão de profissionais, fechamento de leitos e o consequente recuo no número de atendimentos à população.

A reivindicação dos médicos em greve não é salarial. Eles exigem contratações para recompor as equipes da unidade, localizada no Butantã, zona oeste da cidade. As consultas ambulatoriais caíram 30%, de 138 mil, em 2013, para 96 mil, em 2015. As urgências recuaram 24%, o que representa 65 mil casos a menos no período. Já nas internações, houve queda de 21% no mesmo período. Procedimentos cirúrgicos, por sua vez, minguaram 25%.

Os dados obtidos pela Folha são do serviço de Estatística do HU. O impacto nos atendimentos é resultado, segundo servidores, do desmonte do hospital. A crise no HU começou em 2014, quando a reitoria aprovou um PDV (Plano de Demissão Voluntária) na universidade. A medida foi uma das tentativas de combate à crise financeira da instituição.

Saíram do hospital desde então 43 médicos. Uma redução de 15% -o HU tem hoje 253 médicos. Além disso, 195 servidores administrativos se desligaram da unidade. Na mesma época, a reitoria propôs transferir o hospital para a Secretaria Estadual de Saúde. Houve resistência dos servidores, e o processo está parado até agora.

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RAIO-X DA USP

  • 6.055 professores e 15.516 funcionários técnico-administrativos
  • 94,8 mil alunos na graduação e pós-graduação¹
  • R$ 4,9 bilhões é o orçamento inicial da USP para 2016, mas a universidade calcula que deixará de receber ao longo do ano R$ 290 milhões (6%)
  • 104% é quanto a folha de pagamento da USP consome com relação às transferências do Estado

JÁ ENTRARAM EM GREVE

  • Administração Central
  • Hospital Universitário (HU)
  • Cepeusp (Centro de Práticas Esportivas)
  • Biblioteca Brasiliana
  • Servidores dos campi Ribeirão Preto, Bauru e São Carlos
  • Professores ligados à Adusp (Associação de Docentes da USP)
  • Médicos do Hospital Universitário

FUNCIONÁRIOS QUEREM

  • Aumento de 12,34% –sendo 9,34% de reajuste da inflação e 3% de perdas anteriores

USP OFERECE

  • Reajuste de 3%, assim como propõem Unesp e Unicamp

OUTRAS REIVINDICAÇÕES

  • Interrupção de projeto sobre alteração de carreira docente
  • Abertura das contas da universidade
  • Ampliação dos repasses do ICMS às universidades
  • Contratação imediata para recompor quadro de servidores
  • Abandono do plano de desvinculação do HU e ampliação de atendimento de creche

¹Anuário estatístico da USP (2014)


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