Folha de S. Paulo


Professores aprovam greve, e USP já acha 'inviável' até reajuste de 3%

Os professores da USP decidiram entrar em greve a partir da próxima segunda (30), após rejeitarem proposta de reajuste de 3%. As negociações tendem a ficar ainda mais difíceis, já que um novo parecer da instituição considerou "inviável" conceder até mesmo esse índice de aumento salarial acenado inicialmente, devido à crise financeira na USP.

A decisão dos professores da universidade foi tomada na noite desta segunda (23). Os servidores técnico-administrativos da USP já haviam decidido pela paralisação no último dia 12, contra a proposta de reajuste e aquilo que eles chamam de "desmonte" da instituição.

Tanto servidores como professores reivindicam aumento de 12,34%. Alunos ligados ao Diretório Central dos Estudantes apoiam as demandas.

A adesão dos professores foi aprovada por ampla maioria em assembleia da Adusp (Associação dos Docentes da USP). O encontro reuniu cerca de 150 professores. "Fizeram uma proposta de 'menos 7%'. Com uma inflação de 10%, é isso que significa um aumento de 3%", disse a professora Adriana Tufaile, tesoureira da Adusp.

A proposta de 3% de reajuste foi anunciada no último dia 16 pelo Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas), que reúne também Unesp e Unicamp. Na ocasião, a USP indicou que a aplicação do reajuste dependeria do Conselho Universitário, órgão máximo da instituição.

PARECER

Um parecer da COP (Comissão de Orçamento e Patrimônio) da USP foi encaminhado na noite desta segunda-feira aos membros da Conselho Universitário. O órgão vai se reunir nesta terça-feira (24) para tratar do assunto.

No documento, a comissão indica que mesmo um reajuste de apenas 3% implicaria consumir R$ 82,4 milhões das reservas da universidade –atualmente em R$ 1,4 bilhão. "A COP considera tecnicamente inviável um aumento de despesa permanente e a consequente redução das reservas", informa um trecho do documento.

O parecer estima que esse reajuste teria impacto de mais R$ 131 milhões em 2017. A estimativa para este ano, sem reajuste, é que a folha de pagamentos já consuma 104% dos recursos repassados pelo Tesouro do Estado.

As universidades estaduais são financiadas por uma cota de 9,57% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). A maior parte, 5,03%, vai para a USP. As instituições vivem uma crise financeira desde 2014. Os repasses para a USP neste ano ficaram, até abril, 5,18% abaixo do previsto.

A universidade calcula que deixará de receber ao longo do ano R$ 290 milhões do orçamento previsto para 2016. Isso representa 6% dos R$ 4,9 bilhões da dotação inicial. Essas informações basearam esse parecer que refutou inclusive a elevação de 3%.

Diego Padgurschi-14.set.2015/Folhapress
Marco Antonio Zago, reitor da USP, em seu gabinete em São Paulo
Marco Antonio Zago, reitor da USP, em seu gabinete em São Paulo

SERVIDORES E ALUNOS

Nesta segunda, trabalhadores de mais cinco unidades da USP entraram em greve : Administração Central, Hospital Universitário, Cepeusp (Centro de Práticas Esportivas da USP), HRAC (Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais) e a Biblioteca Brasiliana. Na Unicamp, eles também iniciaram paralisação.

Para Magno de Carvalho, diretor do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), a greve dos professores dá peso político às reivindicações. Carvalho defende que a rentabilidade da reserva da USP seria suficiente para garantir reajuste acima da inflação."Eles teriam que arcar só com 2,34%", afirma.

Os alunos também comemoram a decisão dos professores. "Pode ajudar a emparedar mais a reitoria", diz Thamys Porto, 22, aluno de farmácia e diretor do DCE (Diretório Central dos Estudantes).

Os estudantes reivindicam a adoção de cotas raciais; a permanência de alunos –que inclui desde bolsas para que alunos não sejam obrigados a trabalhar a vagas nas creches da universidade–; e a contratação de professores –segundo o líder estudantil, matrículas para determinadas matérias não foram abertas neste ano por não haver reposição de docentes para lecionar.

Além disso, protestam contra a desvinculação do Hospital Universitário; contra cortes nos orçamentos da Educação federal e estadual –entre eles a adoção do regime parcial de trabalho dos professores, o que segundo Porto levaria a uma queda na qualidade de ensino e, principalmente, na pesquisa e produção científica; e contra repressão dos protestos.

"Temos 83% dos cursos mobilizados (alunos), há uma adesão massiva, inclusive de alunos de outras instituições sob o regimento do Cruesp, como Unicamp, Unesp e os secundaristas", afirma o estudante.

A reitoria da USP não se pronunciou nesta segunda sobre a greve dos professores.


Endereço da página:

Links no texto: