Folha de S. Paulo


Estudantes deixam escolas, e só 1 unidade segue ocupada em SP

Estudantes deixaram 12 escolas técnicas desde a última quinta-feira (12), e agora resta apenas uma unidade ocupada no Estado –a de Paraisópolis, na zona oeste de SP.

Na tarde deste domingo (15), alunos da Etec Artes, que fica no Parque da Juventude, na zona norte da capital, fizeram uma faxina geral no prédio antes de deixá-lo. O grupo permaneceu nove dias no local. A saída ocorreu de forma tranquila.

"Nosso movimento foi muito positivo. Mas esse foi só um passo. Estamos saindo para decidir pelas próximas ações", disse um dos líderes do movimento que se apresentou apenas como Geraldo. Ele não respondeu se os estudantes vão ou não aceitar as marmitex, como foi oferecido pelo governo paulista.

A alimentação nas escolas é a principal reivindicação dos alunos, que começaram essa fase atual de protestos no mês passado, com a ocupação do Centro Paula Souza, na região central de SP.

Os alunos querem que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) forneça refeições em todas as 219 unidades do Estado, que reúnem cerca de 213 mil estudantes. Antes das ocupações, 60 unidades ofereciam apenas merenda seca (kit com bolacha e bebida láctea e considerado pouco nutritiva), e outras 23 não serviam nada.

As ocupações cresceram e atingiram 15 prédios públicos no Estado. A reboque da pressão, o governo primeiro anunciou que todas as unidades passariam a receber ao menos um kit com bolacha.

Depois, numa conquista dos estudantes, prometeu distribuir refeições do tipo marmitex a partir do segundo semestre. A medida vai beneficiar 20 mil alunos do ensino técnico integrado –ao todo, são 52 mil matriculados.

O governo alega que somente em 2018 conseguirá concluir os refeitórios em todas as unidades. Até lá, a merenda seca e os marmitex serão as opções aos alunos. A falta de merenda é mais grave no ensino integrado, no qual os alunos passam a hora do almoço na escola. O lanche seco é dado no intervalo da manhã, e cabe aos estudantes levarem suas marmitas.

Segundo uma lei federal de 2009, todos os alunos do ensino público devem receber alimentação "saudável e adequada, compreendendo o uso de alimentos variados". Vários dos grupos que ocuparam as escolas técnicas no Estado nas últimas semanas afirmam que o movimento não é apenas pela merenda. Eles reclamam da qualidade do ensino e também da infraestrutura de alguns dos prédios onde as escolas funcionam atualmente.

No caso da Etec Paraisópolis, na zona oeste, a única que permanece ocupada, os estudantes postaram nas redes sociais fotos de parte da estrutura danificada no prédio. As imagens, dizem eles, foram feitas no momento da ocupação, para provar que já havia problemas por lá.

A gestão Alckmin prevê uma perícia detalhada nas escolas nesta segunda (16). Segundo estimativa parcial do governo, o prejuízo com os danos é de R$ 120 mil. Os estudantes negam vandalismo.

A saída dos alunos foi acelerada na sexta (13), quando a PM seguiu orientação do governo e retirou os alunos de quatro prédios sem mandados de reintegração de posse. Para a OAB e especialistas, a retirada deveria ser feita apenas com mandato judicial.

MAIS SEGURANÇA

Após ter sido desocupada com a intervenção dos próprios alunos, a Etec Basilides de Godoy, na Vila Leopoldina (zona oeste de São Paulo), teve a segurança reforçada neste final de semana.

A unidade ficou ocupada durante nove dias. Na noite de quinta (12), alunos contrários à ocupação retiraram os estudantes de lá. Pais, alunos e professores dormiram na escola e iniciaram uma faxina. A Folha esteve na escola técnica estadual no sábado (14) e encontrou dois seguranças em um carro, além dos vigias uniformizados que costumam atuar no local diariamente.

No mesmo dia, peritos do Instituto de Criminalística (IC) estiveram na unidade de ensino para avaliar danos ao prédio. "Levaram os HDs [peças que armazenam os dados do computador] com as informações de 30 mil alunos dos 65 anos de existência da escola", disse a diretora acadêmica da Etec, Sonia Maria Medrado.

Ela confirmou à reportagem a contratação de mais seguranças até que as aulas voltem à normalidade, nesta segunda (16). Não há confirmação sobre até quando os seguranças ficarão ali. Na quinta, um grupo contrário à ocupação entrou na escola e, com um cordão humano, retirou quem estava na unidade. Eles passaram a noite ali para evitar nova ocupação.


Endereço da página:

Links no texto: