Folha de S. Paulo


Procuradoria do Estado quer ainda hoje audiência entre alunos e governo

A Procuradoria Geral do Estado quer que a audiência de conciliação entre governo do Estado e estudantes ocorra ainda nesta terça-feira (3).

A Justiça ainda não marcou a audiência, que decidirá sobre a ocupação da sede do Centro Paula Souza, ocupada por alunos que pedem melhorias na merenda das Etecs (escolas técnicas).

Ao decidir pela ilegalidade da entrada da PM no local, ocorrida na segunda-feira (2) e pedir explicações ao governo Geraldo Alckmin (PSDB), a Justiça exigiu a audiência. Somente após o encontro, ao qual devem participar o governo e os estudantes, será definido mandado judicial que autorizaria a reintegração de posse do prédio.

Segundo a decisão, a audiência tem o objetivo de "evitar conflito entre policiais militares e estudantes do ensino médio". Antes da audiência, o governo teria de explicar a ordem para que a PM ingressasse no prédio, o que já foi feito pelo secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes. Foi o próprio titular da pasta quem deu a ordem no fim da manhã de segunda, segundo a Folha apurou.

Estudantes que participam da ocupação passaram a manhã entre assembleias e cantorias. Eles dizem não ter recebido informações sobre a audiência e nem de uma suposta reunião com representantes do governo, que ocorreria hoje.

Os alunos que estão desde quinta-feira (28) na sede do Paula Souza, na região central de São Paulo, informaram após assembleia nesta terça-feira (3) que não vão permitir a entrada dos trabalhadores no prédio. A ocupação vai continuar, segundo eles.

Em coro, afirmaram que a liberação tiraria o "caráter da ocupação". Eles afirmaram que a luta é dos estudantes, dos trabalhadores e dos professores. "O corte de recursos provoca falta de merenda e aumenta a precarização da educação", disseram em grupo.

Eles querem que todas as reivindicações sejam atendidas para acabar com a ocupação, que incluiria a imediata construção dos refeitórios nas unidades onde só há entrega de merenda seca (bolachas e bolinhos).

Mais cedo nesta terça, a superintendente do Centro Paula Souza, Laura Laganá, afirmou que todas as unidades já recebem desde segunda-feira a merenda e que a construção de refeitórios depende de licitações.

Apenas o quarteirão em frente ao órgão, na rua dos Andradas, está interditado. Não há a presença ostensiva de policiais, mas alguns carros policiais fazem ronda.

Maia cedo, um policial perguntou aos alunos se haveria disposição para liberar os funcionários. Foi o único contato. Laganá também não tentou contato com os estudantes.

SEM POLÍCIA

Um dia depois de a Justiça considerar ilegal a entrada da PM na sede do Centro Paula Souza, ocupada por estudantes desde quinta-feira (28), o local amanheceu praticamente sem a presença de policiais.

As ruas do entorno do complexo, na região central, que na segunda-feira ficaram interditadas, estão todas liberadas nesta terça (3).

Segundo a Secretaria de Segurança Pública informou na noite de segunda, a polícia não deve entrar na unidade novamente para escoltar os funcionários. A ação foi considerada ilegal pela Justiça porque a pasta não tinha mandado específico que autorizava a entrada no prédio –apesar de já haver decisão pela reintegração de posse.

A decisão de a polícia entrar no prédio partiu do secretário de Segurança Pública, Alexandre de Moraes, como informou a Folha nesta segunda. Homem forte no governo Geraldo Alckmin (PSDB), Moraes participou pessoalmente da ação considerada ilegal pelo Tribunal de Justiça.

PM entra em ocupação de estudantes no Centro Paula Souza

Entre os trabalhadores, o clima era de indignação. "Alem de salários, todas as licenças ou contratações dependem de nós e de documentos que estão no prédio", diz a assistente administrativa Paula Dionísio, 28.

Ela trabalha no setor de recursos humanos. "O problema da merenda vai acabar prejudicando muito mais, inclusive as aulas, contratação de professores".

Um grupo menor de estudantes, com relação ao dia anterior, passou a noite no local. Os estudantes reivindicam entrega de merenda em todas as Etecs (escolas técnicas), geridas pelo Paula Souza.

NOVAS PARALISAÇÕES

Pelo menos mais três Etecs (escolas técnicas) registraram paralisação dos alunos em apoio às ocupações de unidades e pedindo melhoria na merenda.

As Etecs de Pirituba, Jaraguá, na capital paulista, e de Embu, região metropolitana, têm registro de manifestações. Só na escola de Jaraguá as aulas foram totalmente interrompidas. Nas outras, só parte dos alunos permanecem no pátio e o restante tem tido aula.

Rodrigo Russo/Folhapress
Estudantes ocuparam nesta terça (3) a ETEC Basilides de Godoy, na Vila Leopoldina, zona oeste de SP
Estudantes ocuparam nesta terça (3) a Etec Basilides de Godoy, na Vila Leopoldina, zona oeste de SP

As informações são do próprio Centro Paula Souza. Como há funcionários nos locais e os estudantes não estão instalados nas escolas, o órgão não considera que as escolas estejam ocupadas.

As ocupações atingem três outras unidades: Etesp, no centro, Etec Paulistano, zona norte, e Etec Santa Ifigênia. Essa última fica no mesmo complexo da sede do Paula Souza.

OUTRO LADO

Segundo o porta-voz da PM, major Emerson Massera, a corporação somente entrou no prédio para garantir que os funcionários pudessem acessar o local. "A PM não tirou ninguém, mas (entrou na sede) simplesmente para possibilitar que os funcionários pudessem trabalhar. Não teve relação com a decisão de reintegração".

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse que o ingresso da polícia no prédio foi "para acompanhar e garantir a segurança dos funcionários e professores que chegaram para trabalhar no prédio administrativo que não estava invadido".

Após a ação da PM, os funcionários entraram no prédio. Já os policiais se posicionaram no hall e ficaram frente a frente com os alunos, que fizeram provocações à tropa e gritaram palavras de ordem contra o governo do Estado e a PM. Às 19h45, os policiais deixaram o local sem cumprir a reintegração de posse.

Paulo Saldaña/Folhapress
PMs e estudantes se encaram logo após ingresso da Tropa de Choque no Centro Paula Souza
PMs e estudantes se encaram logo após ingresso da Tropa de Choque no Centro Paula Souza

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