Folha de S. Paulo


De volta à escola

Luiz Felipe Pondé: Personagens se assemelham aos que vi nos anos 1970

Colunistas retornam aos bancos escolares

Colunistas da Folha retornam aos bancos escolares por algumas horas e acompanham um dia de aula entre adolescentes de três colégios da cidade de São Paulo.

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Sempre suspeito, contra o que muita gente acredita, que muita coisa na humanidade não muda assim como crê nossa vã sociologia. As ciências humanas cederam ao marketing do mercado das mudanças de comportamento (gerado pela publicidade) e divulgam por aí que tudo está diferente entre os jovens.

Pois bem, minha visita ao sétimo ano da escola estadual Ennio Voss, no Brooklin Paulista, me deu uma agradável sensação de déjà vu.

Cenário, personagens, ruídos e ações pareciam algo muito semelhante ao que vivi no início dos anos 1970, quando cursava o ano análogo ao sétimo de hoje em dia (organização curricular esta que logo, logo será modificada, de novo, ao sabor de algum burocrata de Brasília).

Mas, antes, um reparo sobre as professoras. Chamou minha atenção a qualidade das professoras. Aliando conteúdo e forma, aquelas que acompanhei (matemática, ciências, língua portuguesa e geografia) cumpriam bastante bem seu papel de educadoras, com precisão e leveza.

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Acostumado com os horrores que se fala da educação pública no Brasil (algumas almas céticas dirão que dei sorte ou que a amostragem com a qual convivi foi muito bem "manipulada"), minha experiência no Ennio Voss foi de encantamento com a qualidade, a delicadeza e a competência demonstrada pelas professoras que vi em ação.

Mas voltemos ao cenário do ponto de vista de quem entrava na sala de aula do ensino fundamental décadas depois. Os personagens (alunos) que circulavam pela sala me eram conhecidos. Alguns de forma tão clara que lembrei de cenas do passado. Vejamos alguns deles.

O aluno que ficava sempre atento aos movimentos da professora para "servi-la". Um colega poderia descrevê-lo como aquele "que gosta de agradar a professora", adiantando suas necessidades. De temperamento sempre mais delicado, demonstrava certa proximidade com a professora, e alguns poderiam suspeitar que existem vantagens em servir a professora sempre.

A aluna mais bonitinha e vaidosa. Sempre existiu essa personagem. Falando de meninas dos 11 aos 13 anos, algumas traziam mesmo a boca vermelha de batom, o que contrastava com um olhar misto de mulher e de menina.

A CDF que copiava tudo. O perdido que não sabia do que se tratava a aula. O doidão com cara de metaleiro. Meninos e meninas que nunca calam a boca. O brigão. A menina que não consegue ficar sentada. Enfim, a menina que mais parecia um anjo caído do céu.


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