Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Educação integral é a saída para avanço do ensino fundamental 2

ANGELA DANNEMANN
PRISCILA CRUZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Dividido entre as administrações municipais e estaduais, o ensino fundamental 2 (EF2), etapa que vai do sexto ao nono ano, clama por atenção. As dificuldades se devem, além de outros fatores, ao fato de as crianças passarem a ter vários professores, um por disciplina, e muitos deles não serem especialistas no que ensinam.

A consequência dessas mudanças é clara: mínimo avanço na aprendizagem e taxa de reprovação muito alta, logo no sexto ano. Dos alunos cujas famílias estão entre as 25% mais ricas (com renda igual ou maior que R$ 1.312 per capita), 92% concluem o EF2 até os 16 anos. Dos pertencentes a famílias do quartil de renda mais baixo (até R$ 414 per capita), só 63% concluem essa etapa na idade certa.

Uma das melhores saídas para melhorar os resultados do EF2 é a ampliação do acesso à educação integral. Aqui estamos falando de ampliar o desenvolvimento físico, cognitivo, criativo, afetivo, relacional e ético desses adolescentes, por meio de atividades diversificadas tais como esportes, artes, teatro e informática, em organizações sociais, parques e espaços públicos apropriados, com a mediação de um educador.

Na educação integral é essencial estimular e considerar as escolhas dos adolescentes, que já começam a tomar decisões sobre sua própria vida e podem participar das deliberações sobre sua aprendizagem.

Muitos pensarão que é absurdo colocar toda essa responsabilidade na escola. E é mesmo. Por isso, a responsabilidade tem que ser compartilhada. Poder público, família, comunidade, organizações sociais e empresas precisam se envolver em ações que promovam a parceria com as escolas nos seus territórios, que cumpram a função de ampliar e diversificar a educação dessas crianças e desses jovens. Cabe, porém, ao poder público o papel principal de estruturar e conectar parcerias. De outra maneira, ficaremos no ponto onde já estamos, com algumas escolas -isoladas- fazendo ótimos trabalhos.

No âmbito público, é fundamental haver articulação de Estados e municípios em torno do EF2 e entre setores governamentais, como assistência social, saúde, cultura e transportes, para criar mais possibilidades de aprendizado dentro e fora da escola.

A escola é a instituição pública mais presente na vida dos brasileiros: só no ensino fundamental 2 são 800 dias letivos ao longo de quatro anos. E é, inegavelmente, o serviço público com maior potencial de transformação da sociedade.

A educação não precisa se restringir à sala de aula. A escola pode e deve se integrar aos espaços públicos de educação já existentes. Essa educação integral é o caminho mais direto e promissor para avançar na qualidade dessa etapa.

ANGELA DANNEMANN é superintendente da Fundação Itaú Social

PRISCILA CRUZ é presidente-executiva do movimento Todos Pela Educação


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