Folha de S. Paulo


ANÁLISE

Sintonia entre família e escola nunca foi tão importante

As mudanças físicas e psicológicas sempre interferiram na vida escolar do adolescente. Mas talvez nunca tenha sido tão importante a sintonia entre família e escola. Isso porque uma das maiores novidades de nossos tempos diz respeito à velocidade com que as mudanças no modo de vida ocorrem. Há menos tempo para adaptações. Valores são questionados todos os dias, e jovens são bombardeados com informações que despertam desejos de curta duração, já que a satisfação dos mesmos gera mais e mais necessidades.

O jovem é afetado por constantes e às vezes drásticas mudanças, características da contemporaneidade. E, claro, a escola, onde passa boa parte do dia, é palco de consequências importantes na produção acadêmica, nas relações e nos desdobramentos que esse contexto impõe para sua vida.

É difícil explicar a realidade do jovem a partir de uma observação linear em que o físico e o psicológico desembocam no dia a dia da escola. É necessário pensarmos em multifatores que interferem uns nos outros. Mas valorizo, aqui, o papel da família como referência estável, num período da vida e num mundo cheio de instabilidades.

É sabido que, em um primeiro momento da vida, o grupo familiar é a mais importante referência para o desenvolvimento da criança. Referência essa que deveria permanecer estável, ainda que a importância dos pais como modelo vá migrando aos poucos para os grupos, entre os quais, aquele formado na escola.

Grupos em escolas são sempre heterogêneos, as diferenças individuais físicas e psicológicas entre alunos na faixa de 11 a 14 anos interferem no bem estar, na dinâmica grupal, nos desdobramentos relacionais e no desempenho escolar. É interessante notar que alunos nascidos no mesmo mês e ano e frequentando a mesma sala de aula podem apresentar desenvolvimento físico completamente distinto e, ainda assim, adequado, abrindo um leque de diferenças.

E aí pode estar um dos disparos para o desconforto, as agressões, a valorização ou a desvalorização da autoestima. Daí a importância da informação.

Quem convive com o jovem dessa faixa etária, seja em casa ou na escola, observa uma fase em que aparecem importantes flutuações de humor. A adolescência é considerada uma crise, já que exige adaptações diante de mudanças físicas, psicológicas e sociais.

Das explicações físicas, destaco aqui a região de neurônios do encéfalo denominada hipotálamo. Esta define quando é a hora de iniciar a puberdade. Além de uma mudança nos níveis hormonais, novos arranjos entre as células nervosas se formam de maneira intensa nesse momento. Esse fato desperta interesses até então adormecidos. "Novos prazeres" geram comportamentos que, muitas vezes, impactam pais e professores –que devem constantemente se disponibilizar para a atualização sobre temas como sexualidade, drogas e ética, entre outros.

É aí que entra a necessidade da parceria entre família e escola, pois a combinação entre informação confiável e acolhimento para dúvidas e inseguranças vividas nessa fase é que fará a diferença para a superação da crise. Crises podem resultar em má ou boa evolução. E, sem dúvida nenhuma, informações sobre o que ocorre na adolescência são fundamentais para que pais e educadores sirvam como suporte ao bom desenvolvimento do adolescente.

MAURICIO SOUZA LIMA, 54, é médico hebiatra, especializado em adolescentes


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