Folha de S. Paulo


Alckmin recua, decide pagar bônus, mas não garante reajuste a professor

Quatro dias depois do anúncio de cancelamento do bônus por desempenho aos profissionais da educação de São Paulo neste ano, a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) voltou atrás e decidiu cumprir com esse pagamento –que é feito pelo Estado desde 2008.

Com esse recuo, não há mais previsão de reajuste salarial aos professores, pelo segundo ano seguido. O governo diz que isso vai depender da situação econômica (que não tem perspectiva otimista nos próximos meses), mas que já espera uma "cota de sacrífico dos professores".

Marlene Bergamo - 12.jun.2015/ Folhapress
Em junho de 2015, professores da rede estadual saíram de uma greve de 89 dias sem reajuste

Sob a justificativa de falta de recursos, a gestão Alckmin queria converter os recursos do bônus em um aumento linear de 2,5%, encerrando a discussão salarial para 2016. A notícia desagradou a rede, tanto pelo cancelamento do benefício prometido quanto pelo percentual de reajuste.

A bonificação é paga aos profissionais das escolas que atingiram as metas do Idesp (indicador de desempenho).

Mesmo com a nova decisão do Estado de pagar esse bônus, seu teto será 71% inferior ao do ano passado. Em 2015, servidores receberam até 2,9 salários como bônus. Agora, haverá no máximo 84% da renda. Na média, os recebimentos, que sairão em até 15 dias, serão de R$ 2.008,73.

Estão reservados R$ 449 milhões –menos de metade do R$ 1 bilhão pago no ano anterior. "Não pudemos repetir o êxito do maior bônus da história [pago em 2015] porque o Brasil não está em uma situação econômica boa", disse o secretário de Educação, José Renato Nalini.

Segundo ele, a pasta vai negociar a possibilidade de reajuste, mas que dependerá da economia. "Esperamos mais essa cota de sacrífico dos professores, porque greve é aquilo que menos interessaria à educação de São Paulo."

O último aumento para a categoria foi dado em 2014. A inflação acumulada pelo IPCA desde então é de 16%. Após a repercussão ruim do cancelamento do bônus, a pasta fez enquete online em que 93% preferiram esse benefício ao reajuste de só 2,5%.

O benefício será pago a quase 224 mil servidores (3% menos que em 2015), sendo 179 mil professores. Cerca de 76 mil servidores não receberão por atuarem em escolas que não fizeram Saresp (exame que interfere no Idesp) ou não melhoraram de índice.

A presidente da Apeoesp (sindicato docente), Maria Izabel Noronha, diz que a gestão Alckmin quer confundir os professores, "como se bônus substituísse reajuste". "Isso mostra que não há planejamento para valorizar os profissionais de educação." A entidade abriu consulta para saber se os profissionais preferem bônus ou reajuste que reponha a inflação.


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