Folha de S. Paulo


Presidente do Inep pede demissão; governo busca substituto

Pedro Ladeira/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 14-03-2014, 10h00: O presidente do INEP Chico Soares durante entrevista para a FOLHA. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER) ***ESPECIAL*** ***EXCLUSIVO***
Chico Soares, 62, durante entrevista em março de 2014; ele se demitiu do cargo de presidente do Inep

O presidente do Inep, instituto do Ministério da Educação responsável pelo Enem, está deixando a função, após pouco mais de dois anos no cargo.

Segundo a Folha apurou, Chico Soares, 64, já havia solicitado algumas vezes sua saída do governo ao ministro Aloizio Mercadante (Educação), por questões pessoais. O petista foi avisado nesta segunda-feira (29) da decisão.

"Mercadante agradeceu o trabalho desempenhado por Soares à frente do Inep nos últimos dois anos. O novo nome para presidir a autarquia será anunciado nos próximos dias", diz nota do Inep.

Na conversa, o ministro indicou que deseja ter a participação do agora ex-funcionário em outras funções - há possibilidade, por exemplo, de ele retornar à câmara de educação básica do Conselho Nacional de Educação.

Com mestrado em estatística pelo Impa (Instituto de Matemática Pura Aplicada) e doutorado em estatística pela Universidade de Wisconsin (EUA), Chico Soares foi indicado para a função em fevereiro de 2014, pelo então ministro José Henrique Paim.

A escolha foi bem recebida pelo setor educacional: Soares tem longo histórico de envolvimento com o tema e defende posições como a educação integral e um currículo melhor definido para a educação básica - o que agora está saindo do papel com o debate sobre uma base nacional comum.

"FORMULADOR DE POLÍTICAS"

No fim do ano passado, Mercadante demonstrou resistência diante de uma possível saída de Soares, e ponderou a importância de ter no governo alguém com um perfil de "formulador de políticas" na área.

O ministro destacou ainda a função do Inep de monitorar o andamento das metas previstas no Plano Nacional de Educação, sancionado em 2014. A lei do PNE prevê que cabe ao instituto divulgar, a cada dois anos, um estudo sobre a evolução dos objetivos.

Em sua gestão, Chico Soares se empenhou em dar destaque ao impacto de desigualdades sociais no desempenho educacional de crianças e jovens do país.

Ao divulgar os resultados do Enem por escola em 2014, por exemplo, o Inep decidiu dar destaque a novos indicadores, como o nível socioeconômico dos colégios, numa escala de até sete níveis. Essa informação também se tornou acessível para escolas avaliadas pelo Ideb, principal indicador de qualidade da educação básica do país.

O instituto criou um portal em que cada unidade poderia analisar dados como adequação da formação docente e complexidade da gestão da escola. Crítico aos rankings elaborados a partir do desempenho dos alunos no Enem, o MEC também elaborou novos indicadores para a divulgação das notas na prova, principal porta de entrada para o ensino superior público do país.

No ano passado, o Inep divulgou, por exemplo, o chamado "indicador de permanência na escola", que aponta o percentual de alunos de determinada escola que fez todo o ensino médio na unidade. A informação é uma maneira de indicar a estratégia de colégios de formar unidades de elite, com alunos de alto desempenho de outras escolas.

O instituto também lançou, no ano passado, uma plataforma chamada "devolutivas pedagógicas", cujo objetivo é facilitar o acesso, para professores e gestores, a informações didáticas sobre os diversos indicadores coletados pelo governo federal.

A partir desse canal, o docente pode entender melhor, por exemplo, o que significa na prática a pontuação alcançada por seus alunos na Prova Brasil, avaliação de português e matemática que compõe o Ideb.

REPERCUSSÃO

A saída de Chico foi lamentada em rede social pelo ex-ministro da Educação Renato Janine Ribeiro. Para ele, o mineiro de Conselheiro Lafaiete é "um dos melhores conhecedores de nossa educação".

Para Janine, a divulgação de dados educacionais a partir de critérios sociais, proposto por Chico, "mudou a forma de ver a educação básica, porque em vez de prestigiar a nota mais alta, considerava de que vantagens o aluno partia para chegar lá."

"Para a educação brasileira, é hora de agradecer a Chico pelo que fez - e continuará fazendo", afirmou em sua conta no Facebook.


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