Folha de S. Paulo


Victor Raniery da Silva Holanda, 15

Aos 15 anos, adolescente é o calouro mais jovem do ITA

RESUMO Aos 15 anos, o estudante Victor Raniery da Silva Holanda é o calouro mais jovem do seleto grupo de universitários do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica). De Natal, o garoto estudou até 13 horas por dia com o sistema Ari de Sá, no colégio de mesmo nome, para se preparar para um dos vestibulares mais difíceis do país. Começou a universidade há um mês e mora em um alojamento em São José dos Campos.

Danilo Verpa/Folhapress
SAO JOSE DOS CAMPOS - SP - 03.02.2016 - O estudante Vitor, 15, passou no vestibular do ITA para o curso de engenharia mecanica. (Foto Danilo Verpa/Folhapress, COTIDIANO)
O estudante Vitor Raniery da Silva Holanda, 15, passou no vestibular do ITA para o curso de engenharia mecânica

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Eu era bem quieto quando era menor. Mas minha mãe sempre conta que eu já sabia ler quando tinha 3 anos.

Nessa idade, eu já brincava com jogos educativos, e meu pai sempre pedia para eu fazer contas quando a gente saía para fazer compras ou sair para jantar. Tudo para testar meus conhecimentos.

Quando comecei o segundo ano do ensino fundamental, eu já sabia os temas que eram ensinados.

Então, falei para a diretora que eu queria ir para o terceiro ano porque estava achando fácil. Meu pai também conversou com ela, e resolveram que eu teria de fazer uma prova para pular o ano. Fiz e passei.

Quando eu cheguei no oitavo ano, fiz a prova do Instituto Federal [do Rio Grande do Norte] após ouvir que o curso técnico dava mais facilidade para cursar engenharia.

Mas eu só poderia fazer o técnico se eu concluísse o nono ano. Pensei então que seria uma boa eu pular e ir para o médio.

Para isso, eu precisaria fazer uma prova do supletivo, mas o Estado não queria deixar porque eu não tinha a idade mínima.

Meu pai entrou na Justiça, e o juiz decidiu que o Estado seria obrigado a aplicar a prova. Eu fiz e consegui concluir o ensino fundamental.

Fiz o primeiro e segundo ano técnico enquanto fazia cursinho paralelamente. Eu estudava cerca de 13 horas por dia. Foi intenso.

Nessa época, eu decidi que queria fazer engenharia no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica).

Meu pai me mostrou um vídeo que dizia que aqui eram formados os melhores engenheiros do país. Eu, que já queria cursar engenharia, fiquei muito interessado.

A partir daí, comecei a estudar voltado para o ITA e passei a fazer diversos simulados para a prova.

No terceiro ano do ensino técnico, consegui bolsa para estudar em um colégio particular em Fortaleza (CE), para onde me mudei após passar a vida toda em Natal (RN).

Meus pais ficaram com o coração na mão porque eu só tinha 14 anos e estava indo morar em um pensionato. Mas perceberam que era o melhor para mim e que um bloqueio naquele momento poderia atrapalhar os meus estudos.

Quando eu passei no ITA, minha família fez uma faixa e colocou na frente da casa da minha avó. Foi uma surpresa incrível para mim.

A vida aqui é bem diferente, mas eu já estou me acostumando. Eu morava relativamente perto da praia no Rio Grande do Norte, num clima muito mais quente, já aqui é bem mais arborizado.

Desde o começo do curso, eu já me integrei com a turma, fiz amizades e comecei a rotina militar. É engraçado porque os outros universitários ficam tirando onda comigo por causa da minha idade. Sempre que faço alguma brincadeira, alguém fala: parece até que você tem 15 anos.

Penso em seguir a carreira civil, mas vou estudando para tirar uma nota boa e poder trocar de curso caso eu queira. A nota na universidade também é importante se eu decidir estudar em uma outra universidade, como a Polytechnique, na França.

Provavelmente, eu vou ficar na área de mecânica, onde estou, mas é capaz de eu querer computação depois no meio do caminho.

Nas horas vagas, gosto de ir a restaurantes, assistir a algumas séries. A minha preferida é "The Big Bang Theory". Mas isso só dá para fazer no fim de semana.

Eu tive que abdicar do lazer durante os estudos porque isso distrai muito.Não tenho namorada e estou sozinho aqui. Meu pai ficou quatro dias comigo, mas já voltou para Natal.

Agora, eu só devo ir para casa nas férias do meio do ano e de fim de ano para não gastar muito com passagem porque fica caro, e meu pai está com dívidas.

O importante é que estou gostando muito. Meu aniversário está chegando e já vou completar 16 anos em abril.


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