Folha de S. Paulo


Novo secretário da Educação de Alckmin adota tom conciliador

Bruno Poletti-28.nov.2014/Folhapress
José Renato Nalini será o novo secretário da Educação
José Renato Nalini assumirá Secretaria do Estado da Educação

Ex-presidente do Tribunal de Justiça de SP, José Renato Nalini, 70, assume a Secretaria de Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB) com um discurso de conciliação.

Após recentes embates do Estado com alunos e professores, ele foi anunciado nesta sexta-feira (22) como substituto de Herman Voorwald, que deixou a pasta em dezembro em meio ao desgaste com as ocupações de quase 200 colégios –promovidas contra a reorganização da rede.

"Vamos começar com muito diálogo, ouvindo a todos. Quero falar menos e ouvir bastante. Todos serão chamados colaborar", disse Nalini em entrevista à Folha. "Queremos retomar o status que as escolas públicas de São Paulo tinham no passado."

Nalini comandará a pasta com a função de colocar em prática a promessa de "aprofundar o diálogo", feita por Alckimin ao suspender a reorganização da rede, prevista para este ano e adiada para 2017 depois da resistência de estudantes e professores.

A medida prevê aumentar os colégios com ciclo único (só ensino médio, por exemplo), levando ao fechamento de 92 unidades e à transferência de 311 mil estudantes.

O movimento de alunos contrários à mudança levou à ocupação de quase 200 escolas e resultou na queda de Voorwald. O nome do novo secretário só foi confirmado oficialmente após 48 dias.

"Vou aproveitar esse interesse dos alunos para fazer da escola aquilo que tem que ser feito. Temos de transformá-las em centro de convergência de tudo o que acontece na comunidade, assim como nos países de primeiro mundo", afirmou Nalini.

"Vou reivindicar para termos um debate aberto. Não é possível fazer emendas em coisas que começaram errado, como fechamento de salas. Se for a mesma reestruturação, não tem lógica", declarou a presidente da Apeoesp (sindicato dos professores), Maria Izabel Noronha.

DESGASTE

Assessores de Alckmin avaliam que Voorwald não soube conduzir o processo da reorganização escolar, pulando uma das principais etapas, que era a conversa com os pais, alunos e professores.

O antigo secretário também se desgastou ao enfrentar a mais longa greve de professores da história da rede paulista, que durou 89 dias, e ao afirmar que sentia "vergonha" dos resultados da educação em São Paulo.

No fim do ano passado, auxiliares do tucano diziam que as ocupações das escolas tinham adquirido repercussão a ponto de disputar espaço com a discussão do impeachment de Dilma Rousseff.

Nalini, que foi até o ano passado presidente do TJ, diz que "não foi fácil pedir aposentadoria depois de 45 anos de Justiça para aceitar este desafio", mas afirma se sentir "em casa", já que é professor desde 1969, quando começou no Instituto de Educação Experimental Jundiaí dando aula de sociologia em aperfeiçoamento para professores.

Em meio à tensão no processo de reorganização das escolas, o TJ convocou reuniões de conciliação e decidiu não conceder a reintegração de posse pedida pelo governo.

Doutor em direito constitucional pela Faculdade de Direito da USP, Nalini contava com o apoio do secretário municipal de Educação, Gabriel Chalita (PMDB), que, apesar de estar na gestão Haddad (PT), é ouvido pelo governador, de quem já foi secretário.

"A educação, que segundo a Constituição brasileira é responsabilidade de todos, está hoje muito a cargo do Estado. Quero fazer com que a sociedade e a família se empenhem mais. Vejo a educação como política de nação, de pátria", afirmou Nalini.

Colaboraram KAIO ESTEVES, em Araçatuba (SP), e FELIPE SOUZA

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CRONOLOGIA

22.set
Proposta inicial da secretaria da Educação prevê transferir 1 milhão de estudantes em 2016

6.out
Professores e alunos fazem os primeiros protestos de rua contra reorganização dos ciclos de ensino

27.out
Governo faz pacote menor, com transferência de 311 mil alunos e o fechamento de 94 escolas

9.nov
Com críticas à falta de diálogo sobre as mudanças, primeiras escolas são ocupadas por estudantes

13.nov
Governo de SP pede reintegração de posse de colégios, mas Justiça dá razão aos alunos

23.nov
Justiça nega, pela segunda vez, reintegração de posse; ocupações chegam a 108 escolas

24.nov
O Saresp, prova da rede estadual, tem a menor adesão. SP diz que não pagará bônus a docentes

25.nov
O secretário da Educação admite que pode ter acontecido uma "deficiência" na comunicação

30.nov
Estudantes mudam estratégia e passam a bloquear trânsito em São Paulo como protesto

4.dez
Sob pressão e novos atos, Alckmin suspende mudanças até 2017; secretário da Educação deixa o cargo


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