Folha de S. Paulo


Alckmin nomeia ex-presidente do TJ como novo secretário de Educação

Bruno Poletti-28.nov.2014/Folhapress
José Renato Nalini será o novo secretário da Educação
José Renato Nalini assumirá Secretaria do Estado da Educação

O ex-presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, José Renato Nalini, 70, será o novo secretário estadual de Educação de São Paulo. A confirmação do nome de Nalini coincide com o fim do mandato dele no TJ.

"Gostaria de aproveitar para anunciar o novo secretário de Educação. Será José Renato Nalini", disse o governador Geraldo Alckmin (PSDB) em Santo Anastácio, na região de Presidente Prudente (a 565 km de São Paulo), onde entregou casas do programa CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano).

Em dezembro passado, a Folha já havia divulgado que Nalini era o favorito para o cargo e que as conversas com o tucano estavam avançadas. Contudo, o governo paulista resolveu esperar o término do mandato de Nalini no TJ –no fim do ano passado– para anunciá-lo.

O governador destacou que, apesar de estar no Judiciário, o novo secretário já realizou projetos voltados para educação e aproveitou para agradecer os serviços do antigo secretário, Herman Voorwald, que pediu demissão, em 4 de dezembro, após Alckmin recuar e suspender a reorganização dos ciclos das escolas estaduais.

Nalini contava com o apoio do secretário municipal de Educação, Gabriel Chalita (PMDB). Apesar de Chalita estar na gestão do petista Fernando Haddad (PT), ele é ouvido pelo governador. Próximo a Nalini, Chalita foi secretário de Educação na primeira passagem de Alckmin no governo estadual.

No Facebook, Nalini agradeceu a confiança de Alckmin e afirmou que atuar na gestão da Educação é "um desafio que reclama humildade e coragem". "Temos de aproveitar o potencial de reivindicação para formar uma cidadania responsável e participativa, seja para edificar uma escola melhor, mas ainda apta a forjar o país do futuro", escreveu.

Voorwald deixou o posto devido aos protestos contra a reorganização, que previa fechar 92 escolas e transferir 311 mil alunos de colégio. A ideia era aumentar o número de unidades com apenas um ciclo e fechar as ociosas. Estudantes, pais, sindicatos e movimentos sociais ocuparam escolas e fizeram manifestações contra a medida. O Ministério Público, universidades e ONGs também foram contrários à reorganização.

Nesses momentos de tensão, o Tribunal de Justiça teve papel atuante. Convocou reuniões de conciliação e decidiu não conceder a reintegração de posse das escolas, pedidas pelo governo. Esse histórico pode fazer com que Nalini não enfrente grandes resistências dos manifestantes, ainda que não tenha experiência com educação. Ele é visto por integrantes do governo como uma pessoa de diálogo.

A presidente da Apeoesp (sindicato dos professores), Maria Izabel Noronha, disse que espera que a nova gestão seja aberta ao diálogo. "Vou reivindicar para termos um debate aberto. Há vários desafios que devem ser enfrentados, como a inadiável valorização dos professores e acabar com esse desrespeito com os professores e sindicatos", afirmou.

Ela defende ainda que sejam abertas discussões para aplicar mudanças no ensino, mas condena a reorganização e fechamento de escolas que haviam sido propostos pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB).

"Não é possível fazer emendas em coisas que começaram errado, como fechamento de salas. Se for a mesma reestruturação, não tem lógica. Nós temos de discutir algumas coisas: Vai ter uma reforma curricular? Nós vamos trabalhar com interdisciplinaridade? Isso sim é importante", avaliou a sindicalista.

Noronha não quis comentar o perfil do novo secretário.

PERFIL

Nalini é formado em ciências Jurídicas e sociais na Faculdade de Direito da PUC-Campinas e é doutor em direito constitucional pela Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo).

Nascido em Jundiaí, no interior paulista, trabalhou em diversas regiões do Estado em sua área de atuação. Foi promotor de Justiça em Votuporanga, Itu, São Paulo e Ubatuba antes de ingressar na magistratura. Como juiz, trabalhou em Barretos, Monte Azul Paulista, Itu, Jundiaí e São Paulo. Também foi juiz corregedor da Corregedoria Geral de Justiça do Estado.

Ex-presidente da Academia Paulista de Letras, o novo secretário integra a Academia Paulista de Educação e a Academia Brasileira de Educação. É autor de livros como "Por que Filosofia?", "Direitos que a Cidade Esqueceu", "Pronto para Partir? Reflexões Jurídico-Filosóficas sobre a Morte", "Recrutamento e Preparo de Magistrados", "O Juiz e o Acesso à Justiça", "Constituição e Estado Democrático", "Ética e Justiça", "Ética Geral e Profissional" e "Ética Ambiental".

*

Leia a publicação de José Renato Nalini no Facebook na íntegra:

"Agradeço a confiança do governador Geraldo Alckmin. Contribuir na gestão da educação pública do maior Estado da Federação é um desafio que reclama humildade e coragem.

Educação é um direito social fundamental, com sua contraface de dever partilhado entre Estado, sociedade e, muito especialmente, com a essencial participação da família.

Todos são chamados a oferecer sua parcela de contribuição: os estudantes, os professores, as associações de pais e mestres e de bairros, ONGs e outras entidades, o setor produtivo, as universidades, as igrejas, sem exclusão de todos os demais componentes da sociedade civil.

Temos de aproveitar o potencial de reivindicação para formar uma cidadania responsável e participativa, seja para edificar uma escola melhor, mas ainda apta a forjar o país do futuro."


Endereço da página:

Links no texto: