Folha de S. Paulo


Livro tenta reduzir 'achismos' na educação

"Há muito 'achismo' na educação, mesmo com muitos dados disponíveis." A avaliação é de João Batista Oliveira, presidente do Alfa e Beto, ONG que atua na alfabetização de crianças.

No mês passado, o instituto lançou o livro "Educação Baseada em Evidências: Como Saber o que Funciona em Educação". A obra busca responder, por exemplo, se colocar mais dinheiro no sistema de ensino impulsiona a aprendizagem dos alunos. Ou se diminuir o tamanho das turmas é benéfico.

"Muitas opiniões e políticas públicas são adotadas sem considerar o que já foi estudado", afirma Oliveira, que foi secretário-executivo do Ministério da Educação no governo FHC (PSDB). Os autores usaram a técnica chamada de meta-análise, em que se faz revisão de trabalhos já publicados, nacionais ou internacionais.

Em diversas questões polêmicas, a conclusão é que as condições locais e a implementação das políticas são cruciais para o sucesso da medida –ou seja, não basta ter uma ideia que pareça boa.

No caso dos recursos para educação, por exemplo, a pesquisa indica que é necessário chegar a um patamar mínimo de investimento. A partir daí, os recursos podem não ter mais efeito se não houver melhora na gestão.
No caso da redução do tamanho das turmas, os efeitos mais positivos apareceram quando a política foi adotada para estudantes mais pobres ou para o ensino infantil e início do fundamental.

Se de um lado pode parecer óbvio que diminuir as turmas melhora o ensino, do outro o trabalho mostra que há o risco de professor não mudar suas práticas. E que diminuir as classes aumenta a necessidade de contratação de docentes, e os novos podem não ser tão competentes.

Professor da Faculdade de Educação da USP, Ocimar Alavarse afirma ser positivo colocar em discussão a importância de se buscar evidências na educação."De fato, há muitas opiniões sendo dadas sem consistência", afirma. Alavarse, porém, diz que as conclusões não podem ser tratadas como definitivas.

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FUNCIONA OU NÃO FUNCIONA

O que conta mais no desempenho dos alunos, o nível socioeconômico familiar ou a escola?
Em países em desenvolvimento, como o Brasil, a escola explica ao menos 30% do desempenho do aluno.

Como identificar um bom professor?
Importa mais a prática na sala de aula do que a formação, conhecimento da matéria e nível intelectual do professor.

É positivo diminuir o tamanho das turmas?
Há resultados positivos, mas a prática exige alto investimento, o que abre discussão sobre se ela é a mais eficaz.

Reprovar ajuda o estudante na vida escolar?
Não. Há efeitos negativos para a autoestima e a relação com colegas, por exemplo.

Fonte: Livro "Educação Baseada em Evidências: Como Saber o que Funciona em Educação"


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