Folha de S. Paulo


Natal de escolas ocupadas tem pizza e peru doados por vizinhos

Marlene Bergamo/Folhapress
Ex-musa dos caras-pintadas, Cecilia Lotufo celebra Natal na E.E. Prof. Manuel Ciridião Buarque (zona oeste)
Ex-musa dos caras-pintadas, Cecilia Lotufo celebra Natal em escola ocupada na zona oeste de SP

Não faltou ceia de Natal nas escolas ocupadas de São Paulo. "Algumas vizinhas trouxeram os perus já assados, arroz, farofa", conta Felipe da Silva, 17, aluno da Prof. Manuel Ciridião Buarque, na zona oeste da capital. "Foi um Natal normal, com comida, abraço à meia-noite. A única diferença é que foi longe de casa."

Segundo a Secretaria de Educação de São Paulo, 18 instituições permanecem ocupadas -a pasta não informou quais eram elas.

Na Manuel Ciridião, a sexta-feira (25) de Natal teve "pizzada" feita em um forno improvisado, trazido pela ativista Cecília Lotufo, 40 -que, em 1992, virou símbolo do movimento dos caras-pintadas, que pedia o impeachment de Fernando Collor.

"Moro aqui por perto, já vim aqui várias vezes trazer comida. Antes, nós lutávamos contra o governo. Hoje a luta é a favor da educação e das escolas, tem um caráter propositivo interessante", afirma.

A estudante Stephanie Marcondes, 16, trouxe até a mãe, Luciane, 45. "Agora que ela mora aqui, só vindo para a escola para passar junto mesmo", brinca ela.

"Decidimos continuar porque ficamos com medo de alguém aproveitar a escola vazia para entrar e fazer bagunça", afirma a estudante Gabrielli Cristine, 17.

NATAL OCUPADO
A Fernão Dias Paes (zona oeste) também teve comemoração nesta sexta (25).

À tarde, o estudante Otávio Miguel, 18, que trabalha em um restaurante, comandava a cozinha e prometia cardápio digno de ceia de Natal: em cima do balcão, um pernil recheado com legumes, um prato com espetinhos de carne e uma travessa de batatas assadas.

Além de estudantes, professores, ex-alunos e familiares estavam no local. Para não perder o Natal com filho, Tereza da Rocha, 43, foi passar o dia 25 na escola. "Não teve jeito, tive que vir aqui atrás dele", diz.

Desde que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) anunciou a suspensão do plano de reorganização e fechamento de escolas prometidos pelo governo para 2016, o movimento de ocupação começou a perder força.

Na Fernão Dias Paes, a perspectiva é que os estudantes desocupem o local até o final do ano, mas ainda não há data definida -eles ainda reivindicam a criação de um grêmio e aulas públicas.

Na Prof. Manuel Ciridião Buarque, os estudantes prometem passar o Ano-Novo na escola. "Agora nossa briga é com a diretoria, por melhorias na estrutura", diz o estudante Felipe da Silva, 17.

NOVAS PAUTAS
Os colégios começaram a ser ocupados pelos estudantes há mais de um mês em protesto contra a reorganização e fechamento de escolas prometidos pelo governo para 2016. Mas, sob pressão e com seu mais baixo índice de popularidade, Geraldo Alckmin (PSDB) decidiu suspender o plano.

No auge dos protestos, o número de unidades ocupadas chegou a 196. No entanto, desde que o governador anunciou a suspensão do plano, o movimento começou a perder força.

Agora, as escolas que continuam mobilizadas pedem melhorias dentro da escola.

No caso da Fernão Dias, estudantes pedem a formação de um grêmio e aulas públicas.

Na Prof. Manuel Ciridião Buarque, os estudantes reivindicam reformas estruturais. "Agora nossa briga é com a diretoria, por melhorias na escola, banheiros mais limpos, menos alunos por sala de aula", conta o estudante Felipe Henrique da Silva, 17. "Além disso, ficamos com medo de alguém aproveitar a escola vazia para entrar e fazer bagunça", diz a estudante Gabrielli Cristine, 17.


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