Folha de S. Paulo


Estudantes decidem desocupar escolas estaduais de SP a partir desta sexta

Um grupo organizado de estudantes que coordena parte das ocupações aos colégios estaduais de São Paulo anunciou a saída das unidades a partir das 12h desta sexta-feira (18).

A decisão ocorre em um momento em que o movimento vinha perdendo força. Das 196 escolas ocupadas no auge das manifestações contra um plano de gestão escolar do governo Geraldo Alckmin (PSDB), 52 delas ainda estão tomadas por alunos.

Esse grupo representa parcela importante das escolas tomadas e costuma tomar suas decisões em assembleias. Em texto divulgado numa rede social, os estudantes escreveram que a ocupação já cumpriu sua função.

"O conjunto das nossas reivindicações, entretanto, não foi atendido e não cederemos até que seja. Analisamos, porém, que as ocupações já cumpriram sua função e que é hora de mudar de tática", diz o texto.

As ocupações das escolas do Estado foram a forma que os alunos encontraram para pressionar o governo Alckmin contra o plano de reorganização escolar anunciado em setembro e que seria implementado já em 2016.

A proposta da gestão, sem um debate amplo com pais e alunos, previa que 754 escolas (de um total de 5.127 unidades no Estado) passassem a ter apenas um ciclo de ensino no ano que vem (apenas anos iniciais, finais do fundamental ou o médio). O objetivo, segundo o governo, seria melhorar a qualidade do ensino e evitar que um aluno de seis anos, por exemplo, frequentasse a mesma unidade de um adolescente de 17 anos.

Para a aplicação desse plano, 92 escolas seriam fechadas e 311 mil alunos seriam remanejados –entre os 3,8 milhões de estudantes da rede.

A pressão dos alunos, com ocupações e bloqueios em importantes avenidas da capital paulista, deu certo. Alckmin suspendeu a proposta no último dia 4 e, desgastado, Herman Voorwald pediu demissão da Secretaria de Educação.

Os estudantes, porém, que antes pediam a suspensão do plano, decidiram mudar a pauta de reivindicação. Mantiveram a maioria das ocupações e passaram a pedir uma declaração de Alckmin de que o projeto seria definitivamente engavetado, sem chance de novas discussões ao longo de 2016, por exemplo.

Nesta quinta-feira, na mesma nota, o grupo de alunos ainda afirma que, apesar de buscar a união do movimento, a desocupação será decidida em cada uma das escolas.

A estudante Natasha de Paula do Capital, 16, da escola Professor Antônio Alves Cruz, no Sumaré (zona oeste), afirmou que os alunos da unidade ainda vão se reunir na tarde desta quinta (17) para decidir. "Nem todas as escolas vão acatar porque o comando decidiu", disse. Os alunos convocaram uma manifestação para segunda (21), às 17h, no vão-livre do Masp.

Na Fernão Dias Paes, uma das primeiras a serem ocupadas, os estudantes também ainda estão decidindo se vão sair. Em uma votação preliminar na tarde de quinta, a maioria havia decidido ficar na escola.

A estudante Caulin Meirelles, 16, diz que é a favor da desocupação. "Tá apertada a diferença. Os alunos querem ficar por reivindicações para o próprio Fernão, como a formação de um grêmio e aulas públicas", diz.

No momento, os alunos também discutem a realização de um mutirão, que inclui a pintura da escola.O estudante Cauê, 16, que preferiu não dizer o sobrenome, diz que as salas estão pichadas de antes da ocupação e que eles pretendem resolver esse tipo de problema na escola antes de sair. "A gente quer deixar a escola melhor do que pegou".

A Justiça acolheu na quarta (16) pedido de liminar da Defensoria Pública e do Ministério Público para a suspensão de todos os efeitos do projeto de reorganização. A decisão, que só veio a público nesta quinta, mantém o sistema educacional como em 2015, com a permanência dos alunos nas unidades onde já estavam matriculados.

O juiz Luis Felipe Ferrari Bedendi, da 5ª Vara de Fazenda Pública da Capital, considerou que "não se primou pela participação democrática na implementação de projeto de tão grande intensidade". Entre os motivos, estão a falta de diálogo com as pessoas impactadas pela mudança e da opinião de especialistas em educação.

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