Folha de S. Paulo


Ocupação de escolas perde força, e alunos avaliam novo rumo

Uma semana após o governador Geraldo Alckmin (PSDB) suspender a reorganização das escolas paulistas, estudantes que ocupam colégios ainda avaliam qual será o rumo do movimento, desidratado após a desocupação de parte das escolas.

Mesmo com a suspensão do plano pela gestão tucana, que afirma querer "aprofundar o diálogo" em 2016, os alunos pedem o cancelamento do projeto e a punição de policiais que agrediram adolescentes em manifestações.

O governo queria dividir unidades por ciclos únicos (como só ensino médio). Para isso, iria transferir 311 mil alunos e fechar 92 colégios.

Em um mês de ocupações e protestos, os secundaristas barraram o projeto que seria implantado em 2016. Também derrubaram o secretário da Educação, Herman Voorwald. Ainda não há substituto.

No último dia 4, quando Alckmin recuou, 196 escolas no Estado estavam ocupadas. Nesta sexta (11), eram 99. Na capital, alguns colégios centrais deixaram o movimento nos últimos dias, como o Caetano de Campos (Aclimação) e o Miss Browne (Perdizes).

"Agora são novos métodos para novas metas. Se a reorganização voltar em 2016, nós podemos fazer novas ocupações e travamento [de ruas]", diz Antônio Assis, 15, da escola Fidelino Figueiredo, na Santa Cecília (centro).

Nesta sexta, os alunos "colocavam a escola em ordem", para depois desocupá-la.

Outros colégios continuam firmes e sem previsão de recuo, como o Fernão Dias Paes e o Alves Cruz, ambos em Pinheiros (zona oeste).

Os alunos de cada escola decidem os rumos da ocupação. Durante a semana, há reuniões do "Comando", grupo com representantes das unidades.

Essas reuniões são marcadas pelos alunos por meio de um grupo no WhatsApp.

Cada escola envia dois representantes da ocupação a essas reuniões –nem sempre os mesmos. É esse "Comando" que decide, por exemplo, estratégias para o movimento, como o fechamento de ruas e grandes avenidas.

Os alunos dizem que não há líderes e que as decisões são sempre tomadas em assembleias. A entrada na Fernão Dias Paes, por exemplo, foi deliberada dessa forma.

REVOLTA E MANUAL

As ocupações em escolas paulistas tiveram influência da "revolta dos pinguins, movimento de secundaristas chilenos que ocupou mais de 700 escolas em 2011.

Os alunos de SP chegaram a usar o manual chileno "Como ocupar o seu colégio?".

A primeira ocorreu no colégio estadual Diadema, na noite do dia 9 de novembro. Poucas horas depois, cerca de cem alunos entraram no Fernão, já no dia 10.

"Um aluno teve a ideia. Todo mundo sentou e pensou nos riscos. Foi feita uma votação e resolvemos ocupar", diz Allekxander Buniak, 21, aluno do 2º ano do Fernão.

Buniak conta ter servido dois anos no Exército. Ele diz que "nem gosta de política" –quer prestar direito e abrir um estúdio de tatuagem. Outros já são mais ligados à militância, como Heudes Oliveira, 18, também do Fernão. Ele atuou como porta-voz do Movimento Passe Livre em atos contra o aumento da tarifa.

Os alunos se dizem autônomos e rechaçam a participação de partidos. Nos protestos, os gritos de ordem se restringem às reivindicações relacionadas à reorganização. Gritos de "fora Cunha", porém, foram ouvidos em um show em frente a uma escola ocupada no último domingo (6).

Já o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) não é abordado pelos estudantes. "Nosso foco foi sempre a reorganização. Dilma, Temer, Aécio são todos iguais. Nem discutimos isso", diz Antônio Assis, 15.


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