Folha de S. Paulo


Estudantes que forçaram governo de SP a recuar têm perfis heterogêneos

Marcela Reis, 18, quer fazer medicina, mas sabe que não vai ser fácil. Fernanda Freitas, 17, quis participar do grêmio da escola, mas não foi escolhida –quem seleciona os alunos é a diretoria.

César Lima, 18, quer entrar no Exército, mas não descarta a biologia. É um dos poucos da sua idade que não tem celular –a mãe ligava tanto, diz, que ele desistiu.

Os três fazem parte de movimentos que ocupavam, até a sexta (4), 196 colégios estaduais de São Paulo e fizeram a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) suspender o plano de reestruturação da rede de ensino, que separava escolas por ciclos e fechava 92 unidades.

A decisão foi tomada após bloqueios de ruas pelos jovens e confrontos com a Polícia Militar. Os alunos anunciaram a continuação das ocupações até a revogação ser publicada no "Diário Oficial" –o que ocorreu na edição deste sábado.

O movimento reuniu jovens de perfis diversos. Nas últimas semanas, antes do recuo do tucano, a reportagem conversou com alguns deles. Comum a muitos estava o distanciamento de movimentos estudantis tradicionais.

"Eles ajudam com algumas coisas, e agradecemos. Mas tentar entrar, colocar faixa, [ter] o protagonismo... Isso não deixamos", diz Fernanda Freitas, 17, da escola Diadema.

Primeira a ser ocupada, no dia 9, a unidade não era a única administrada por adolescentes durante as ocupações.

Na Salvador Allende, em Itaquera (zona leste), Beatriz Ferreira, 15, ficou responsável pelas chaves do colégio, que recebeu um crescente aparato de segurança ao longo dos anos. "Duas grades para entrar no pátio, uma na biblioteca, uma para cada corredor", diz. A ocupação era basicamente tocada por jovens de sua idade ou menos.

FUTURO

Assim como a perspectiva pessoal de futuro, a visão sobre o papel das ocupações na trajetória de cada um também era diversa entre os alunos.

"Se me perguntarem onde estava em novembro de 2015, vou dizer que estava aqui, no lugar de todos aqueles que também queriam estar, mas não podiam", diz Vitória Ellery, 18, do colégio Caetano de Campos, na Aclimação (região central de SP).

"Estava ajudando um monte de gente a fazer história", diz Brayan Aftinus, 18, presidente do grêmio da escola. "Não sei. Acho que vou falar que estava meio enrascado. Minhas médias estão meio ruins", diz Matheus, 17.

Mudanças suspensas

Estudantes que seriam afetados pelas mudanças -

Destino das 196 escolas ocupadas -

divisão dos ciclos de ensino - Como é hoje e como seria, segundo a proposta


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