Folha de S. Paulo


Após recuo de Alckmin, estudantes decidem manter ocupação em escolas

Representantes dos estudantes que ocupam 196 escolas no Estado de São Paulo decidiram permanecer dentro das escolas, mesmo após a decisão do governador Geraldo Alckmin (PSDB) recuar em seu plano de reorganização da rede estadual de educação.

A decisão foi anunciada na noite desta quinta-feira (4), após uma assembleia feita entre representantes de diferentes escolas ocupadas.

Os alunos dizem que continuarão ocupando as escolas até que tenham garantias da revogação permanente da reorganização escolar. "Apesar do recuo do governo, não tivemos uma resposta concreta", disseram os alunos. "Só desocuparemos as escolas se a reorganização for cancelada oficial e permanentemente e se o governo garantir nenhuma punição aos manifestantes".

Eles fizeram um jogral dentro da escola Alves Cruz, no Sumaré (zona oeste de SP) para evitar que se caracterizasse a presença de alguma liderança. Ali, estava reunido o comando das ocupações.

Os jovens fizeram outras exigências, como a punição a policiais que tenham cometido abusos e a não punição ou criminalização de envolvidos em manifestações. Eles também cobram a oficialização de um calendário para a reforma escolas.

Os jornalistas tiveram de ficar atrás de uma faixa branca e não puderam fazer perguntas. O pronunciamento ocorreu com atraso de mais de uma hora e coincidiu com a chegada de emissoras de TV, como a Rede Globo.

Os estudantes anunciaram um ato público do movimento às 17h do dia 9 de dezembro, no vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo).

O RECUO

Em pronunciamento, Alckmin afirmou que recuou para "aprofundar o diálogo" em 2016. "Nós entendemos que devemos aprofundar o diálogo, vamos dialogar escola por escola", disse.

O recuo do tucano ocorreu em meio a uma série de protestos, ocupações de ao menos 196 colégios por estudantes e queda em sua popularidade.

A suspensão das mudanças levou o secretário da Educação, Herman Voorwald, a pedir demissão durante a tarde. A Folha apurou que a revogação da medida foi tomada sem o aval de Voorwald.

A suspensão das mudanças foi também uma derrota direta de Herman Voorwald, que anunciou o plano às vésperas do final do ano letivo. Na quinta (3), ele foi retirado pelo governador do comando das negociações com os alunos —função entregue ao secretário Edson Aparecido (Casa Civil).

O plano de reorganização das escolas, publicado em decreto, previa que 754 escolas passem a ter apenas um ciclo de ensino no ano que vem (anos iniciais, finais do fundamental ou o médio).

Segundo o governo, o objetivo era melhorar a qualidade do ensino e evitar que um aluno de seis anos, por exemplo, frequente a mesma unidade de um adolescente de 17 anos. Sindicato, alunos e especialistas, porém, dizem que essas mudanças visam apenas o corte de gastos do governo, pois separar crianças e adolescentes não tem nenhuma sustentação pedagógica. Dizem ainda que o fechamento de unidades ampliará a superlotação de salas, enquanto o remanejamento mexerá diretamente com a rotina de alunos, pais e professores (que terão que percorrer distância maior para chegar à escola).

Para a aplicação desse plano, além de 92 escolas fechadas, 311 mil alunos serão remanejados -entre os 3,8 milhões de estudantes da rede.

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