Folha de S. Paulo


Em 'dança das cadeiras', alunos escapam da PM e discutem com motoristas

"Não tem arrego! Você tira a minha escola que eu tiro seu sossego", gritavam estudantes que bloqueavam uma das pistas da avenida Brigadeiro Faria Lima (zona oeste de SP) na manhã desta quinta (3) com cadeiras escolares.

Motoristas buzinavam revoltados com o tempo perdido no congestionamento, enquanto policiais militares se preparavam para dispersar mais uma vez os estudantes com bombas de efeito moral.

Um grupo que variou entre 50 e 100 jovens promoveu uma dança das cadeiras pelas ruas da zona oeste da capital, fechando cruzamentos importantes e driblando a polícia com protestos relâmpagos contra a reorganização escolar.

Publicada em decreto, a mudança que prevê a divisão das escolas por ciclos únicos (anos iniciais e finais do fundamental e o médio). Para isso, 92 escolas serão fechadas, e cerca de 300 mil alunos serão remanejados.

Na zona oeste, alunos da primeira escola ocupada, Fernão Dias Paes, fecharam a Faria Lima várias vezes, dispersando e reagrupando após policiais atirarem bombas de efeito moral. Para se proteger, muitos jovens se escondiam entre os carros.

Artur Rodrigues
Bomba de gás usada pela PM para dispersar manifestantes no centro de SP atinge tanque de moto
Bomba de gás usada pela PM para dispersar manifestantes no centro de SP atinge tanque de moto

Além da Faria Lima, eles fecharam as avenidas Rebouças, Cidade Jardim, Nove de Julho, causando longas filas. Quase sempre, motoristas exaltados saíam dos carros para discutir com os jovens.

Um homem chegou a ameaçar passar por cima e outro tentou fazer a volta subindo subindo com sua SUV sobre canteiro central da Faria Lima.

Muitos também tentavam convencer os jovens com argumentos de que iam de um "compromisso urgente" até que estavam a caminho da maternidade pois acabavam de ser pais.

Atrasada para um compromisso, a advogada Daniele Almeida, 37, deixou o carro num estacionamento na rua bloqueada, no Itaim Bibi, e pegou um táxi. "Respeito o protesto, faz parte da democracia, mas também prejudica meu direito de ir e vir", diz.

Mesmo após serem dispersados com bombas várias vezes, os estudantes não desistiam da ideia de 'converter' os policiais. "O seu filho também em escola estadual, o que você vai dizer para ele?", diziam.

"Deixem eu falar. Sou formado em direito. E o direito de vocês termina onde começa o deles aqui", disse um policial, apontando para os motoristas, para em seguida ouvir reclamações dos jovens sobre agressões cometidas por PMs. A reportagem presenciou alguns com ferimentos que, segundo eles, eram resultado de estilhaços de bombas.

A partir do fim da manhã, a marcha das cadeiras passou a ter como objetivo a libertação três jovens presos pela polícia no Itaim Bibi.

O clima ficou tenso próximo do 14º DP (Pinheiros), onde estavam os detidos.

Atirando bombas de efeito moral, polícia passou mais de uma hora tentando fazer os jovens dispersarem. "A gente já viciou nisso", comentou uma aluna para uma policial.

A estudante de jornalismo da faculdade Cásper Líbero Isabel Pereira, 21, foi algemada e levada para 'averiguação', segundo os policiais. "Me prenderam só porque eu estava avisando os secundaristas quando os policiais iam jogar a bomba", disse ela. Um outro rapaz se recusou a seguir até a delegacia e foi carregado.

Por volta das 15h, as cadeiras permaneciam na rua Lacerda Franco. Segundo os estudantes, só sairiam dali quando os demais fossem liberados.


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