Folha de S. Paulo


Alunos fazem atos em série em vias de SP contra plano da gestão Alckmin

Estudantes fizeram uma série de manifestações em vias de grande circulação de veículos, na manhã desta quinta-feira (3) em São Paulo, contra a reorganização e fechamento de escolas estaduais.

O plano de reorganização das escolas estaduais, já publicado em decreto, prevê a divisão das escolas por ciclos únicos (anos iniciais e finais do fundamental e o médio). Segundo o governo, o objetivo é melhorar a qualidade do ensino e evitar, por exemplo, que alunos de seis anos frequentem a mesma unidade de adolescentes de 17 e 18 anos.

Para isso, 92 escolas serão fechadas, e cerca de 300 mil alunos serão remanejados. A rede paulista tem 5.147 escolas e 3,8 milhões de estudantes. Ao todo, 754 unidades novas escolas terão só um ciclo no Estado a partir do próximo ano.

Nesta quinta, já foram registrados protestos em ao menos dez vias da capital paulista. Alunos chegaram a travar o cruzamento da avenida Angélica com a avenida São João, na região central, mas foram dispersados pela Polícia Militar. Ainda na região central, estudantes bloquearam a rua Doutor Albuquerque Lins, na altura da Marechal Deodoro.

No início da tarde, estudantes do colégio Fernão Dias, localizado em Pinheiros (zona oeste) fecharam o cruzamento das avenidas Nove de Julho e Cidade Jardim.

Artur Rodrigues
Bomba de gás usada pela PM para dispersar manifestantes no centro de SP atinge tanque de moto
Bomba de gás usada pela PM para dispersar manifestantes no centro de SP atinge tanque de moto

Na zona sul, grupos fecharam a estrada do M'Boi Mirim com a rua Anhandí Mirim, além da avenida João Dias –próximo ao terminal de mesmo nome.

Na zona oeste, os estudantes bloqueiam a marginal Pinheiros no sentido rodovia Castello Branco na altura da ponte Transamérica. Na mesma região, alunos também fecham o cruzamento das avenidas Francisco Morato e Jorge João Saad. A avenida Heitor Penteado também foi bloqueada em ambos os sentidos na altura da avenida Pompeia.

Na zona norte, a pista local da marginal Tietê está bloqueada no sentido Castello Branco, na altura da ponte Piqueri. Os estudantes da escola estadual Salvador Allende, na zona leste, fecharam a Radial Leste durante cerca de 40 minutos.

Mesmo com as manifestações, o sistema de monitoramento de trânsito da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) registrou congestionamento abaixo da média desde o início da manhã.

A estudante Adriana Freitas, 15, do colégio Fidelino Figueiredo disse que cerca de 40 estudantes fechavam a avenida Angélica quando a polícia agiu para retirá-los. "Em três minutos, começaram a atirar bombas. Uma acertou na minha perna", diz.

Testemunhas disseram à reportagem que uma das bombas atiradas pelos policiais atingiu o tanque de uma moto. O motociclista desceu do veículo, que continuou pegando fogo. Ele foi levado para a delegacia sem ferimentos.

Durantes os protestos, alguns motoristas presos no trânsito discutiram com estudantes que barravam a passagem dos veículos. Um deles disse que atropelaria os manifestantes se o carro dele fosse o primeiro da fila.

A advogada Daniele Almeida, 37, tentou passar pelo bloqueio formado na rua Renato Paes de Barros. Sem Sucesso, deixou o carro num estacionamento e pegou um táxi. "Respeito faz parte da democracia, mas também prejudica meu direito de ir e vir", disse.

Os manifestantes (que incluem alunos, sindicalistas e integrantes de outros movimentos, como Passe Livre) decidiram no domingo (29) radicalizar os protestos após a indicação do governo de que não recuará da reorganização. Desde então, houve ao menos um protesto por dia com fechamento de grandes avenidas.

Até então, os protestos priorizavam ocupação de escolas. Na última contagem do governo, eram 191, de um total de 5.100 no Estado inteiro.

PRISÕES

Um protesto de estudantes da escola estadual Salvador Allende, em Itaquera, na zona leste de São Paulo, terminou com dois manifestantes detidos na manhã desta quinta-feira (3).

De acordo com estudantes que participavam do ato, a Polícia Militar agiu após os estudantes fecharem a Radial Leste na altura de um terminal de ônibus. Os manifestantes relatam que os policiais usaram cassetetes e spray de pimenta para dispersar o grupo de manifestantes e liberar a via.

Cinco manifestantes foram levados para a delegacia após manifestações na zona oeste da cidade. Os três primeiros foram detidos enquanto fechavam a avenida Heitor Penteado.

Outros dois foram detidos enquanto protestavam na porta do 14º DP (Pinheiros) contra a prisão dos três amigos.

DESBLOQUEIO

O secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes, disse à Folha que não usará a Polícia Militar para fazer reintegrações de posse das escolas ocupadas, mas vai impedir os estudantes de fecharem completamente as vias durante manifestações.

"Se tiver algum dano, a polícia vai ingressar na escola, mas ela não será usada para fazer a reintegração. Quem vai cumprir a reintegração é a Secretaria da Educação. Temos ordens de reintegração de posse há mais de duas semanas e não fizemos nenhuma", afirmou Moraes.

Nos primeiros dias de ocupação, a PM montou um cerco ao colégio Fernão Dias Paes, em Pinheiros (zona oeste), pioneiro do movimento dos alunos contra a proposta da gestão Alckmin de reorganização da rede de ensino.


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