Folha de S. Paulo


PM intervém e acaba com bloqueio de 30 estudantes em avenida de SP

Policiais militares tiveram que usar a força para liberar uma das principais vias de São Paulo na manhã desta quarta-feira (2). Cerca de 30 jovens haviam bloqueado a avenida Doutor Arnaldo, ligação da zona oeste com a região central, em protesto contra a reorganização da rede de ensino anunciada pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB) para 2016. Quatro manifestantes foram apreendidos –sendo dois adolescentes– e encaminhados para a delegacia.

O plano, já publicado em decreto, prevê a divisão das escolas por ciclos únicos (anos iniciais e finais do fundamental e o médio). Segundo o governo, o objetivo é melhorar a qualidade do ensino e evitar, por exemplo, que alunos de seis anos frequentem a mesma unidade de adolescentes de 17 e 18 anos.

Para isso, 92 escolas serão fechadas, e cerca de 300 mil alunos serão remanejados. A rede paulista tem 5.147 escolas e 3,8 milhões de estudantes. Ao todo, 754 unidades novas escolas terão só um ciclo no Estado a partir do próximo ano.

O plano encontra resistência de parte dos alunos afetados –191 escolas estão ocupadas em protesto contra a mudança. Além disso, o Ministério Público do Estado decidiu entrar com ações na Justiça para derrubar a proposta da Secretaria do Estado de Educação de São Paulo.

Na manhã desta quarta, com faixas e cartazes, um grupo de cerca de 30 estudantes da escola estadual Professor Antônio Alves Cruz colocou cadeiras para interditar as quatro faixas da Doutor Arnaldo, no sentido Sumaré, em frente ao Cemitério do Araçá. Ao menos cinco carros da Polícia Militar acompanharam a manifestação, que começou por volta das 7h40.

A polícia diz que tentou conversar com os jovens para que eles liberassem a via. Por volta das 8h30, houve um princípio de tumulto entre alguns estudantes e a polícia, que começou a retirar a força as cadeiras. Alguns policiais usaram cassetetes para imobilizar alguns dos manifestantes.

"Um dos policiais usou o cassetete para enforcar um estudante que não queria sair da rua. Começou um tumulto e passarem a nos agredir até a avenida ser liberada ", disse a aluna Larissa Moreira, 15, que está no 1º ano do ensino médio.

A estudante Natasha de Paula do Capital, 16, disse que foi agredida com um tapa no rosto por um motorista que se irritou com o protesto. "Ele estava gritando para a gente sair da rua porque ele queria passar e tinha mais o que fazer. Quando fui tentar negociar com ele, fui puxada para dentro do carro pela janela do motorista e levei um tapa muito forte", afirmou.

MAIS PROTESTOS

Em outro ponto da cidade, ao menos 20 estudantes colocaram também cadeiras e faixas para interditar a avenida Giovanni Gronchi, na altura da rua Charles Spencer Chaplin, no Morumbi. Segundo a PM, o ato começou por volta das 7h20 e terminou às 8h10 após diálogo com a polícia.

A onda de pequenos protestos ganhou corpo nesta terça (1°). À noite, um protesto na av. Nove de Julho, com alunos contrários à reorganização, terminou em confronto com PMs, que usaram bombas de gás para desbloquear a via. Alguns revidaram com pedras.

Mais cedo, em Osasco (Grande SP), a escola Coronel Antônio Paiva de Sampaio, que estava ocupada, foi depredada. Os autores não foram identificados. Os alunos negam que tenham sido eles e citam ação de desconhecidos. A Ouvidoria da PM pediu investigação sobre a conduta de policiais nos dois casos.

Na semana passada, o secretário Herman Voorwald (Educação) admitiu que pode ter havido "uma deficiência na questão da comunicação para entender o que é a reorganização". "Entendo que, por conta de uma rede extremamente complexa, elas [as informações] não chegam da maneira que deveriam chegar, ou porque são contaminadas ou pela incompetência de nós nos comunicarmos com os pais." "Mas não há a menor dúvida que o movimento [a reorganização] é importante. Por que nosso aluno não tem o direito de ter uma escola melhor?"

Voorwald também negou que a reestruturação tenha objetivo financeiro, ele disse: "A minha única preocupação é que esses jovens tenham uma melhor educação. Eu tenho vergonha, enquanto secretário do Estado da Educação, dos resultados que o Estado de São Paulo, que esse país apresenta, e que o Estado de São Paulo apresenta. Não é possível que a sociedade se conforme com isso".

OUTRO LADO

A Polícia Militar disse em nota à reportagem que age para impedir que haja dano ao "patrimônio público, como o ocorrido em Osasco, ou tumultos e badernas nas ruas, que prejudicam o acesso de milhões de paulistas ao trabalho, estudo e hospitais, como ocorrido na Dr. Arnaldo". A nota diz ainda que Foi necessário o "uso progressivo da força para dispersar os manifestantes".

Mudanças na educação


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