Folha de S. Paulo


Governo Alckmin infla balanço de desocupações de escolas em SP

Numa tentativa de indicar uma onda de desocupação de escolas no Estado, a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) inflou um balanço oficial com o número de colégios que tiveram a saída voluntária de estudantes nos últimos dias.

Em nota divulgada na noite de quinta (26), a Secretaria da Educação apresentou uma lista com os nomes de 38 colégios que, segundo ela, haviam sido desocupados pelos alunos que protestam contra a reorganização e o fechamento de 92 unidades da rede estadual em 2016.

No texto, a secretaria diz que todas essas desocupações ocorreram graças ao "diálogo permanente com alunos e comunidade escolar".

Levantamento feito pela Folha nesta sexta (27), porém, identificou que ao menos 29 escolas nunca chegaram a ser ocupadas por alunos ou movimentos sociais –a reportagem telefonou para essas 38 escolas e cruzou informações de visitas recentes da reportagem e de outras listas de colégios ocupados divulgadas pelo próprio governo paulista.

Apenas em cinco escolas, nenhum servidor atendeu o telefone –três delas, porém, constavam como "ocupadas" em lista divulgada três dias antes pelo próprio governo.

Nas 33 restantes, em apenas quatro há relato de terem sido tomadas por estudantes.

O colégio Juvenal Ramos Barbosa, em Guarulhos (Grande SP), é um dos apontados pelo governo como "desocupado". Entretanto, segundo funcionários do colégio, os alunos não conseguiram tomar a unidade e as aulas ocorreram normalmente.

A Apeoesp (sindicato dos professores estaduais) definiu a informação divulgada pelo governo como uma tentativa de "enganar a população".

A briga entre estudantes e governo estadual já foi parar até na Justiça. Porém não houve acordo entre as partes.

Os manifestantes protestam contra a decisão da gestão de dividir parte dos colégios por ciclos únicos de ensino (anos iniciais e finais do fundamental e o médio).

Esse plano prevê para 2016 o fechamento de 92 escolas e o remanejamento de 311 mil alunos –a rede estadual tem 5.147 escolas e atende a 3,8 milhões de estudantes. Ao todo, 754 escolas atenderão só um ciclo de ensino no Estado.

Os alunos dizem que só saem das escolas quando a gestão Alckmin desistir do plano de reorganização.

Por outro lado, o governo disse que não voltará atrás, mas considera renegociar o plano caso os estudantes deixem as unidades.

Mudanças na educação

BÔNUS

Até a noite desta sexta-feira, 190 escolas permaneciam ocupadas –na tarde de segunda (23), eram 86 escolas, sendo que a primeira delas foi tomada no dia 9.

A crise na educação paulista se agravou nesta semana. Em meio às ocupações, o secretário Herman Voorwald anunciou que não pagará nenhum bônus aos professores das escolas ocupadas e nas quais os alunos não foram realizadas a prova do Saresp.

A prova é a principal avaliação dos estudantes da rede estadual paulista e seu resultado é usado para balizar o pagamento ou não de gratificações aos servidores.

O sindicato reagiu no mesmo dia e ameaça acionar a Justiça numa tentativa de derrubar a decisão da secretaria.

OUTRO LADO

Em nota divulgada na noite desta sexta-feira (27), a Secretaria da Educação do governo Alckmin diz que os colégios que ela citou em sua divulgação "notificaram suas regionais de ensino sobre a presença de movimentos contrários ao processo de reorganização das escolas estaduais", por meio de "assembleias, acampamentos ou mesmo manifestações".

A pasta afirma que, nessas escolas, "a equipe gestora, por meio do diálogo com alguns alunos, restabeleceu a rotina de forma pacífica".

"Essa tem sido a ação protagonizada pelas diretorias regionais e corpo diretivo das escolas para a desocupação das unidades", diz a nota da assessoria de imprensa.

Segundo a secretaria, "a retomada da rotina escolar" pressupõe "andamento normal das atividades letivas", situação "que não ocorria nas escolas mencionadas".

A Justiça determinou na quinta (26), por meio de liminar, a reintegração de posse de 17 escolas ocupadas por alunos em Sorocaba (99 km de SP). Os estudantes teriam 24 horas, a partir da notificação em cada unidade, para sair dos prédios. Se não aceitarem, a PM está autorizada a fazer reintegração.

Colaborou STEPHANE SENA, do "Agora"


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