Folha de S. Paulo


Agenda cultural em colégios ocupados inclui circo, debate e até cursinho

Quem passa pelas 182 escolas ocupadas no Estado de São Paulo vê de fora apenas correntes e cadeados, além de pouca movimentação atrás dos muros. Do lado de dentro, porém, os alunos sem aula organizam, por conta própria, uma programação com oficinas, debates e até aula de cursinho pré-vestibular.

O colégio Fernão Dias, em Pinheiros (zona oeste), que já está na terceira semana de ocupação, já recebeu show do cantor Chico César e rodas de discussão com artistas, professores universitários e líderes de movimentos sociais.

O porta-voz da ocupação, Heudes Oliveira, 18, diz que uma comissão de cinco estudantes faz um pente-fino para definir quais serão as atividades do dia.

Além das oficinas, os alunos também fecharam parcerias para ter aulas de dois cursinhos pré-vestibular em dois períodos na próxima semana.

"É importante esse apoio externo porque a gente quer, além de aula, colocar em pauta outras questões, como música, cultura e grafite. Queremos mostrar que a escola pode ir muito além das salas. E se a gente consegue fazer isso, então o poder público também pode", diz Oliveira.

Os estudantes do colégio Professor Alberto Conte, em Santo Amaro (zona sul), tiveram aulas de técnicas circenses na tarde desta quinta (26).

A instrutora voluntária ensinou a fazer uma pequena pirâmide humana.

No colégio Salvador Allende, em Itaquera (zona leste), após receber as propostas os estudantes definem em assembleia quais aulas querem ter. A maior parte das apresentações artísticas e oficinas que ocorrem no colégio são de artistas e outras pessoas que moram perto do colégio, como grafiteiros e músicos.

Apenas o grupo Hub Livre já conseguiu reunir mais de 2.000 aulas doadas a alunos das escolas ocupadas. Os temas vão de educação sexual a igualdade racial e social.

Infográfico: Mudanças na educação

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PERGUNTAS SOBRE A REORGANIZAÇÃO

1 - Quais estudos embasaram a decisão do governo? Eles foram divulgados?
O governo afirma que estudos da Secretaria da Educação e Inep (órgão federal) mostram que escolas com um ciclo têm melhores notas. Nenhum dos trabalhos, porém, isola quanto do ganho é resultado especificamente do número de ciclos.

2 - Houve diálogo com pais e alunos antes da decisão?
Segundo o governo, os dirigentes de ensino tiveram 30 dias para conversar com a comunidade escolar. O secretário de Educação, Herman Voorwald, reconhece, porém, que pode ter havido deficiência no processo.

3 - Qual será o destino das 92 escolas que serão fechadas em 2016?
Foram oferecidas às prefeituras e ao Centro Paula Souza (escolas de ensino técnico). Não há definição do que será feito com todas elas.

4 - O ano letivo dos alunos das escolas ocupadas está comprometido?
O governo afirma que serão cumpridos os 200 dias letivos obrigatórios. Assim, as unidades terão de repor aulas quando forem desocupadas.

5 - Quais os efeitos do cancelamento do Saresp nas escolas ocupadas?
As unidades ficam sem avaliação da sua qualidade, e os servidores dessas escolas ficarão sem receber bônus por desempenho.

6 - As ocupações são consideradas ilegais?
O Tribunal de Justiça considerou que as ocupações são válidas, pois têm como objetivo abrir discussão com o Estado sobre a reorganização.

7 - Quantas escolas serão impactadas?
O governo quer dividir parte das unidades por ciclos únicos (anos iniciais e finais do fundamental e o médio). Para isso, pretende transferir 300 mil alunos e fechar 92 colégios.

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BOLA DE NEVE NA CRISE DA EDUCAÇÃO EM SP
Reorganização da rede estadual gera protestos e ocupações de escolas

> 22.set
A Secretaria da Educação previa transferir 1 milhão de alunos em 2016

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Começam os primeiros protestos de rua

> 27.out
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> 9.nov
Com críticas à falta de diálogo, primeiras escolas são ocupadas

> 13.nov
Governo pede reintegração de posse, mas Justiça dá razão aos estudantes

> 15.nov
Tentativa de acordo fracassa, e ocupações explodem

> 24.nov
O Saresp, principal avaliação dos estudantes da rede estadual, é prejudicado. Governo não pagará bônus a professores das 174 escolas ocupadas. Sindicato reage e ameaça ir à Justiça


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