Folha de S. Paulo


Tenho vergonha da educação de SP, afirma secretário da gestão Alckmin

O secretário paulista de Educação, Herman Voorwald, afirmou nesta quarta-feira (25) que tem "vergonha dos resultados [de educação] de SP". A declaração foi dada em entrevista à rádio CBN, em meio à sua defesa do processo de reorganização dos ciclos da rede estadual, medida do governo Geraldo Alckmin (PSDB) que irá concentrar alunos de séries semelhantes em colégios e fechar 92 escolas.

Ao negar que a reestruturação tenha objetivo financeiro, ele disse: "A minha única preocupação é que esses jovens tenham uma melhor educação. Eu tenho vergonha, enquanto secretário do Estado da Educação, dos resultados que o Estado de São Paulo, que esse país apresenta, e que o Estado de São Paulo apresenta. Não é possível que a sociedade se conforme com isso".

A proposta foi anunciada em setembro e deve ser aplicada no ano letivo de 2016. Há três semanas, estudantes ocupam escolas em São Paulo em protesto contra a medida. Segundo a Secretaria de Educação do Estado, há ao menos 151 escolas ocupadas –a ocupação subiu 40% no dia da aplicação do Saresp, exame estadual de avaliação do ensino.

O secretário também admitiu que pode ter havido "uma deficiência na questão da comunicação para entender o que é a reorganização". "Entendo que, por conta de uma rede extremamente complexa, elas [as informações] não chegam da maneira que deveriam chegar, ou porque são contaminadas ou pela incompetência de nós nos comunicarmos com os pais." "Mas não há a menor dúvida que o movimento [a reorganização] é importante. Por que nosso aluno não tem o direito de ter uma escola melhor?"

Essas ocupações são um protesto contra a intenção do governo estadual de dividir parte das unidades por ciclos únicos (anos iniciais e finais do fundamental e o médio). Para isso, a gestão tucana deve viabilizar em 2016 o fechamento de 92 escolas e o remanejamento de cerca de 300 mil alunos -a rede tem 5.147 escolas e 3,8 milhões de estudantes. Ao todo, 754 unidades terão só um ciclo no Estado.

Infográfico: Mudanças na educação

SARESP

As notas dos alunos do 5º ano do ensino fundamental subiram no ano passado nas escolas estaduais paulistas. Já as do ensino médio praticamente estacionaram em patamar abaixo do adequado. Os dados fazem parte dos resultados do Saresp de 2014, que teve participação de 1,3 milhão de alunos.

A melhoria mais acentuada apareceu entre os estudantes do 5º ano em matemática –média subiu 6,9 pontos em um ano (de 209,6 para 216,5). Já entre formandos do ensino médio, subiu apenas 1,7 ponto e chegou a 270,4.

Com o desempenho, o aluno da rede, na média, conclui o ensino médio com nível inferior ao adequado para alunos três anos mais jovens. Para o 9º ano do ensino fundamental, o adequado são 300 pontos. Ou seja, o formando no ensino médio não sabe, por exemplo, identificar a tendência de crescimento apresentada num gráfico.

A média em matemática no ensino médio é praticamente a mesma desde 2009. Já a do 5º ano sobe desde aquele ano. Em português, também houve avanço maior no 5º ano do que no ensino médio.

Editoria de arte/Folhapress

DESEMPENHO NO IDEB

A rede estadual de São Paulo teve a segunda melhor nota no ensino médio na avaliação nacional, o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) 2013 –ainda que apenas cerca de 10% dos alunos apresentem o conhecimento adequado em matemática, segundo tabulação da ONG Todos pela Educação.

No ensino fundamental (anos iniciais), São Paulo teve aumento em seu desempenho –passando de 5,4, em 2011, para 5,7, em 2013. O Estado ficou em quarto lugar empatado com Santa Catarina. Já nos anos finais do ensino fundamental, teve uma ligeira melhora: 4,3 (2011) para 4,4 (2013).

O Ideb é um índice criado em 2007 pelo MEC (Ministério da Educação) para avaliar a qualidade das escolas e das redes de ensino. O resultado combina a taxa de aprovação escolar com o desempenho de estudantes em matemática e língua portuguesa.

A partir dos resultados, o governo estabelece metas de qualidade e acompanha o desenvolvimento das escolas, municípios e Estados em educação. O índice é divulgado a cada dois anos. O Ideb usa os resultados de duas avaliações do governo federal: o Saeb e a Prova Brasil. São exames complementares aplicados para estudantes do 5° ao 9° ano do ensino fundamental e do 3° ano do ensino médio de todo o país.

Ideb

FUGA DE DOCENTES

A rede estadual de ensino de São Paulo também vive neste ano uma saída recorde de professores. O corpo docente para as escolas públicas encolheu 11% em relação a 2014. A redução ocorreu tanto entre concursados (-6%) como entre não efetivos (-16%), segundo dados da Secretaria de Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB).

O Estado tem a maior rede de ensino do país, com 3,8 milhões de estudantes. A redução no número de professores é a maior pelo menos desde 1999, primeiro ano com dados disponíveis, tanto para o total de docentes quanto para os efetivos.

As informações foram tabuladas pela Folha com base em boletins da Secretaria da Educação e no portal da transparência estadual.

Infográfico: Saída de docentes


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