Folha de S. Paulo


Ocupação de escolas em SP sobe 40% em dia de exame e atinge 151 unidades

O número de escolas ocupadas em protesto contra a reorganização da rede paulista cresceu de 108 para 151 entre segunda e terça-feira (24) –primeiro dia de aplicação do Saresp, exame estadual de avaliação do ensino.

Ou seja, houve crescimento de 40% na quantidade de colégios ocupados por estudantes (em alguns há também sem-teto). A rede possui cerca de 5.000 unidades. A contabilização é feita pela Secretaria de Educação da gestão Geraldo Alckmin (PSDB).

O Saresp é uma prova anual, usada para avaliar a situação da rede e balizar o pagamento de bônus a servidores. Nas unidades ocupadas, a prova não é aplicada.

O exame será finalizado nesta quarta-feira (25).

A Secretaria de Educação diz que ainda estuda como será feito o pagamento de bônus para os servidores dos colégios sem a avaliação.

A Apeoesp (sindicato docente) e alunos pregam o boicote à prova, como retaliação à reorganização das escolas proposta pelo governo.

A gestão Alckmin pretende transferir 310 mil alunos de escola ano que vem, para que os colégios concentrem alunos de séries semelhantes. Com a movimentação, 92 unidades serão fechadas.

A pasta afirma que a mudança ajudará na gestão dos colégios e evitará desperdício, pois há unidades com poucos estudantes.

A medida tem sido criticada por diversas entidades, como as faculdades de educação da Unicamp e da USP, que veem na medida apenas o objetivo de economia. A ONG Cenpec apontou o transtorno que as famílias terão com a mudança de colégios.

A Justiça negou a reintegração de posse dos colégios, pedida pelo governo.

A Secretaria de Educação diz estar aberta ao diálogo.

Infográfico: Mudanças na educação

AS OCUPAÇÕES

Um dos colégios ocupados nesta terça foi o Antônio Firmino de Proença, na Mooca (zona leste da capital), onde o senador José Serra (PSDB) estudou, entre 1955 e 1959.

Oito alunos chegaram a ser detidos pela Polícia Militar. Segundo a corporação, eles danificaram o colégio.

Em Santo Amaro (zona sul da capital), cerca de cem alunos aproveitaram o Saresp para tomar a escola estadual Professor Alberto Conte.

Eles entraram no horário normal de aula e fizeram campanha para boicote da prova. Em seguida, trancaram os portões e passaram a controlar o acesso.

"Nossa escola tem só alunos de ensino médio e as salas chegam a ter 50 pessoas. O governo quer trazer ainda mais estudantes no ano que vem para uma estrutura já saturada. Não vamos permitir isso", afirma o estudante do 3º ano do ensino médio Guilherme Carmo, 17.

O governo tem afirmado que a reorganização não causará superlotação de classes.

Em visita ao local, a reportagem presenciou os estudantes usando as duas quadras da escola para jogar futebol e vôlei. As salas estavam trancadas e os estudantes promoviam oficinas culturais e mutirões de limpeza no pátio.

Por WhatsApp, um grupo de alunos combinou a ocupação da escola Virgília Rodrigues Alves de Carvalho Pinto (zona oeste). Entraram antes das 7h, usando um grampo de cabelo para abrir o portão, segundo os estudantes.

As provas do Saresp, que seriam aplicadas ali, foram canceladas. Houve resistência à ocupação por parte de alguns estudantes do 3º ano. Professores de física e filosofia dos alunos da série teriam prometido um ponto na média para quem fizesse o exame.

Na escola Fernão Dias Paes, a segunda ocupada por estudantes, houve aulas públicas com o colunista da Folha Gregorio Duvivier, a cartunista da Folha Laerte e o ator Pascoal da Conceição. Depois, alunos tiveram aulas de defesa pessoal.

Houve ocupação até de colégio que não participa da rede, caso da escola técnica Jardim Ângela (administrada pelo Centro Paula Souza).

Alunos do colégio, que participa do exame como convidado, pretendiam passar a noite na unidade.


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