Folha de S. Paulo


Alunos em Itaquera vão passar a noite em escola em ato contra fechamento

Inspirados nos alunos do colégio Fernão Dias Paes, em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, cerca de cem estudantes ocuparam a escola estadual Salvador Allende Gossens, em Itaquera (zona leste), no início da manhã desta quinta-feira (12).

Os estudantes quebraram os cadeados dos portões por volta das 5h e colocaram novos no lugar para controlar o acesso. Eles disseram que a polícia ainda tentou invadir o local algumas vezes após a entrada dos alunos. "Eles [PMs] deram muitos chutes nos portões. As meninas tremiam muito, então tivemos de montar uma barreira na porta", disse o estudante Diego Italo Silvério, 19.

Os alunos afirmam que não contaram com a ajuda de nenhum partido político ou movimento social para planejar a ocupação. Eles dizem apenas que a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) os informou que apoia a iniciativa.

A escola em Itaquera atende 494 alunos do ensino fundamental 2 e médio e tem apenas 26% de sua capacidade, de acordo com a Secretaria do Estado de Educação. A pasta informou que os estudantes do ensino médio e 8º e 9º anos do ensino fundamental serão transferidos para a escola estadual Professor Francisco de Assis Pires Corrêa, que fica a 1,3 km distante da escola atual.

Já os alunos do 7º ano do ensino fundamental estudarão, a partir de 2016, na escola estadual Professora Maria de Lourdes Aranha de Assis Pacheco, que também fica a 1,1 km. A diretoria de ensino da região diz que lamenta a interrupção das aulas e que a PM está no local para garantir o controle e a integridade de alunos e professores. "As manifestações legítimas, desde que não desrespeitem a lei e o direito de estudar dos alunos".

O prédio da escola Salvador Allende Gossens será usado pelo Centro Paula Souza ou pela Prefeitura de São Paulo, que poderá transformá-la em creches ou pré-escolas. Essa é a terceira ocupação organizada por alunos contra a reformulação das escolas. A secretaria lembrou ainda que no próximo sábado (14) as unidades da rede estadual estarão abertas para receber pais e responsáveis para sanar eventuais dúvidas e dar todas as informações sobre o processo de reorganização das escolas.

A diretoria de ensino disse também que um boletim de ocorrência foi registrado pela direção da escola e que o Conselho Tutelar foi acionado.

Os estudantes dizem ter decidido ocupar o local após a diretoria da escola anunciar o fechamento da unidade. Eles dizem que o local tem aulas para alunos do ensino médio no período da manhã e para o segundo ciclo (do 5º ao 9º ano) à tarde.

Os estudantes do ensino médio devem ser transferidos para a escola Francisco de Assis Pires Correia, a 1,3 km de distância à pé do atual colégio.

Durante visita à área interna a escola às 11h, a Folha presenciou os alunos concentrados no pátio e na cozinha. Parte deles preparava o almoço, mas a maioria jogava pingue-pongue, futebol ou fabricava cartazes.

Os estudantes trancaram os acessos às salas, laboratórios e biblioteca da escola. A intenção é preservar o local e os materiais e trabalhos guardados. Eles pretendem ficar no local até serem recebidos pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB) para negociar o funcionamento da escola no próximo ano letivo.

PASSAR A NOITE

Assim como os estudantes da escola estadual Fernão Dias Paes, os alunos da escola Salvador Allende já se preparam para passar a noite no local. Os estudantes pedem para que as pessoas levem colchonetes e mantimentos para eles se manterem no local pelos próximos dias.

Em assembleia, os estudantes vetaram o uso de drogas ou bebidas alcoólicas dentro da escola. Eles também definiram equipes de segurança, limpeza e cozinha para manter a organização do espaço.

Mãe de uma estudante de 16 anos que estuda no colégio, a auxiliar de limpeza Sandra Elisa Guimarães dos Santos, 46, disse que apoia o protesto e, se puder, também vai dormir no local. "Eles querem fazer minha filha sair de uma escola perto de casa para andar 1,5 km. O caminho da nova escola tem pontos de tráfico de drogas e ela vai ter de passar por lá 6h30. Agora, você acha que eu vou ficar tranquila no trabalho pensando na segurança dela?, disse.

No início da tarde, o acesso de jornalistas e outras pessoas que não sejam estudantes foi vetado após uma assembleia dos alunos. Uma equipe do conselho tutelar regional também foi ao local.

Infográfico: Mudanças na educação

PROTESTO NA GRANDE SP

A Secretaria de Estado da Educação informou que tenta negociar com pessoas que ocuparam também nesta sexta (12) a escola estadual Valdomiro Silveira, em Santo André, na Grande SP, mas ainda não conseguiu. A unidade, segundo a pasta, tem 450 alunos matriculados e capacidade para 2.000 estudantes.

De acordo com o governo, os alunos já estão matriculados em unidades de sua preferência para o ano letivo de 2016. A secretaria da Educação diz estar "aberta ao diálogo, mas não apoia atos de vandalismo orquestrados por entidades que não estão em busca da melhoria do ensino."

Na última terça (17), alunos de uma escola em Diadema, na Grande São Paulo, também ocuparam uma unidade contra a reorganização feita pela gestão Alckmin.


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